Título: Cai número de acordos de redução de jornada no setor metalúrgico
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2009, Brasil, p. A2

As indústrias do setor metalúrgico parecem ter dado uma pequena trégua nas negociações de medidas que têm por objetivo reduzir os gastos com folha de pagamento. Nos últimos dias, afirma o presidente da Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT/SP, Valmir Marques da Silva, as empresas têm preferido optar por férias coletivas, banco de horas e licença remunerada à suspensão temporária dos contratos e à redução da jornada com redução de salário - medidas que acabam por reduzir a renda mensal dos trabalhadores.

"Em janeiro, houve uma pequena melhora no cenário da crise e empresas que estavam negociando o lay-off [suspensão dos contratos] desistiram, principalmente as montadoras, que em fevereiro tiveram uma retomada nas vendas de automóveis", afirma o sindicalista. A federação, porém, não tem um balanço fechado das negociações realizadas no Estado até o momento.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, também considerou "surpreendente" o resultado das vendas de automóveis em janeiro. De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no mês, o licenciamento de veículos leves aumentou 3,2% sobre dezembro, para 189.712 unidades. Em comparação a janeiro de 2008, no entanto, houve queda de 7,6%. "No ABC, a maioria das empresas tem adotado banco de horas, férias coletivas e outras medidas que preservam a renda dos trabalhadores", diz Nobre. Para ele, a projeção dada pela Anfavea de produção de 2,8 milhões de veículos neste ano, após 3,2 milhões é um cenário menos pessimista do que se esperava no início de janeiro. "Mas é preciso aguardar o desempenho primeiro trimestre para avaliar os rumos do emprego", pondera.

A avaliação dos sindicalistas coincidiu com a decisão da Ford. A montadora anunciou ontem a suspensão das férias coletivas que daria a 350 funcionários da fábrica de transmissões de Taubaté (SP) por dez dias, começando em 25 de fevereiro. Segundo a assessoria da montadora, a decisão foi tomada em função da recuperação da demanda e do número de pedidos novos. Em janeiro, conforme dados da Anfavea, o licenciamento de veículos da Ford teve queda de 1,9% sobre dezembro, mas cresceu 32,2% em relação a janeiro do ano passado, para 17.361 veículos. A montadora informou que as férias coletivas já anunciadas para a unidade de caminhões de São Bernardo do Campo serão mantidas. As férias irão de 19 de fevereiro a 16 de março e envolverão 800 metalúrgicos. A Ford emprega no Brasil em torno de 10 mil pessoas.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, a empresa sinalizou inicialmente o interesse em colocar os 800 funcionários da unidade em férias, mas voltou atrás na semana passada, informando a melhora na demanda. O complexo industrial da montadora em Taubaté emprega 1.550 pessoas.

Apenas neste mês, Kepler Weber, Marcopolo, Pirelli, Mercedes-Benz, NGK do Brasil e General Motors, além de empresas menores do setor de autopeças de Santa Catarina, anunciaram férias coletivas para 22,2 mil metalúrgicos. O número, no entanto, ainda é bastante inferior aos acordos fechados para redução de jornada e salário, que já envolvem 49,2 mil metalúrgicos.