Título: Não existe justificativa para o bloqueio a Cuba, diz Lula a Raúl Castro
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2008, Brasil, p. A6

Os presidente de Cuba, Raúl Castro, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, aproveitaram almoço de confraternização no Itamaraty, ontem, para reforçar o discurso contra o embargo americano à ilha caribenha. Castro disse que seu país convive com o problema há 50 anos e que, em todo esse período, sempre foi feita a mesma pergunta: para que e por que bloquear? Acrescentou que seu povo segue, até hoje, sem respostas para essa indagação. "Setenta por cento dos cidadãos cubanos já nasceram sob o bloqueio", afirmou o presidente cubano. AP Photo/Eraldo Peres

Raúl Castro passa em revista a tropa em sua chegada a Brasília: fim do bloqueio econômico americano a Cuba "não pode acontecer com base em gestos unilaterais"

Castro lembra que a ex-secretária de Estado americana durante o governo de Bill Clinton, Madeleine Albright - que faz parte da equipe de transição do presidente eleito Barack Obama - afirmou que a derrubada do embargo só seria possível se houvesse um gesto de boa vontade do governo cubano. "Gesto de quem, gesto para quem?", perguntou.

Um possível gesto sinalizado por Castro pode ser a troca de dissidentes cubanos presos na Ilha por cinco cubanos que estão detidos nos Estados Unidos, acusados de espionagem. "Nossa aproximação com os Estados Unidos não pode acontecer apenas com base em gestos unilaterais", afirmou ele.

O presidente cubano demonstrou disposição em conversar com o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, quando e onde ele decidir que o encontro deve ocorrer. "Querem soltar os dissidentes? Que nos digam, porque os mandamos para os Estados Unidos, com família e tudo. Mas devolvam nossos heróis", pediu Castro.

A vitória de Obama, que durante a campanha eleitoral sinalizou a possibilidade de uma "suavização" do embargo econômico contra Cuba, poderia representar, na visão do presidente cubano, uma distensão na relação entre os dois países. Ele agradeceu o empenho de outros países latino-americanos que, reunidos nos últimos dias na Costa do Sauípe, na Bahia, se solidarizaram aos cubanos na campanha pela suspensão do embargo.

Para Lula, o primeiro gesto do futuro presidente americano, Barack Obama, deveria ser sinalizar que tipo de relação os Estados Unidos terão com seus vizinhos de continente. A segunda seria apontar uma razão para o bloqueio a Cuba. "Não existe nenhuma justificativa política ou ética para um embargo contra um povo que a única coisa que fez foi conquistar sua liberdade", destacou o presidente brasileiro.

Lula lembrou que, durante uma de suas inúmeras viagens à África, teve a humildade de pedir desculpas aos negros pelos 300 anos de escravidão imposta a eles pelos brasileiros. "Mas a palavra desculpa não faz parte do dicionário das nações ricas", disse. O presidente destacou a reunião encerrada na quarta-feira na Bahia, na qual ficou acertado o retorno de Cuba ao Grupo do Rio. "Não estamos pedindo a inclusão de Cuba na OEA porque ela não quer. Mas é bom lembrar que durante todos esses anos, esse grupo de países no continente jamais se reuniu porque os americanos nunca deixaram." Agradecido, Castro falou: "Deixa eu ir, senão me enamoro do Brasil e das brasileiras e não volto para Cuba."