Título: Senado resistirá à entrada da Venezuela no Mercosul
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2008, Política, p. A10

A aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul, ontem, na Câmara, deverá sofrer resistência no Senado não só dos partidos de oposição ao governo federal, mas também do PMDB. O projeto de decreto legislativo, que contém o Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul, foi aprovado na noite de quarta-feira na Câmara e segue para análise e voto dos senadores.

A votação favorável ao projeto foi simbólica para o governo federal, pois foi realizada no período em que a Cúpula da América Latina e Caribe sobre integração e desenvolvimento (Calc), na Bahia. O deputado José Genoino (PT-SP) foi um dos defensores mais ferrenhos do projeto. "Nesse momento de turbulência econômica, é importante o fortalecimento do bloco", disse ontem. Na Câmara, apenas o PSDB articulou-se em bloco contra a aprovação.

No Senado, a expectativa dos parlamentares é que a proposta sofra resistência de governistas, articulados pelo ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), um dos parlamentares que mais atacam a negociação com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e da entrada do país ao bloco. A senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), entretanto, desconversou: "Vamos aprovar o que for melhor para o país".

O PSDB é contrário à entrada da Venezuela no Mercosul e o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o partido defenderá a derrubada do projeto. "Essa é uma aliança que não interessa ao Brasil, em nenhum aspecto", comentou. O tucano classificou Hugo Chávez como "aventureiro" e "candidato a ditador": "O Mercosul já tem problemas para consolidar-se e não se fortalecerá com a Venezuela".

O governo pressionará pela aprovação. Para o senador Renato Casagrande (PSB-ES), os parlamentares devem considerar a importância da "maior integração regional". "Não se deve olhar essa questão sob a perspectiva de que Chávez é presidente. Ele é passageiro e o mais importante é a integração". "O governo quer, a Câmara também. Se o Senado não aprovar vai ter que se justificar", disse o deputado Genoino.

O protocolo de adesão da Venezuela foi assinado em Caracas, em 4 de julho de 2006, pelos integrantes do bloco e pela própria Venezuela. O Uruguai, Argentina e a Venezuela já aprovaram a entrada do país no bloco. No Paraguai, está em tramitação no Poder Executivo.

Se for aceita por todos os países integrantes do Mercosul, a Venezuela deverá adotar as normas do bloco, a Nomenclatura Comum do Mercosul e a Tarifa Externa Comum sobre os produtos comercializados. O país terá também de aceitar um acordo de liberalização comercial e de negociações.

De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores, o Mercosul passará a constituir um bloco com mais de cerca de 270 milhões de habitantes e PIB superior a US$ 1,8 trilhão com a incorporação da Venezuela. De janeiro a outubro de 2008, a corrente de comércio entre Brasil e Venezuela atingiu US$ 4,7 bilhões, dos quais US$ 4,2 bilhões correspondem a exportações brasileiras. A Venezuela, segundo o governo federal, já é o segundo destino das exportações brasileiras na América do Sul.

Em nota, o ministério divulgou que o ministro Celso Amorim recebeu com satisfação a aprovação do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul pelos deputados e que " representa passo importante para o aprofundamento do processo de integração da América do Sul.