Título: Ata diz que IPCA acima da meta foi o motivo da manutenção dos juros
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2008, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve os juros básicos em 13,75% ao ano em sua reunião da semana passada porque, embora o cenário inflacionário tenha se tornado mais favorável, a trajetória esperada para o IPCA continua acima da meta de 2009. Ruy Baron / Valor

O presidente do BC, Henrique Meirelles: "a decisão tomada foi equilibrada"

É o que diz a ata da reunião do Copom, divulgada ontem, que explica porque o comitê manteve sua política monetária restritiva apesar de a maioria de seus membros ter discutido a possibilidade de reduzir juros.

Segundo a ata, a hipótese aventada pela maioria dos membros foi um corte de 0,25 ponto percentual. "O comitê entende que a consolidação de condições financeiras restritivas por um período mais prolongado de tempo poderia ampliar de forma relevante os efeitos da política monetária sobre a demanda e, ao longo do tempo, sobre a inflação", diz o documento.

Essa maioria, porém, concluiu que não era o momento adequado para iniciar um processo de distensão monetária porque "a trajetória prospectiva central de inflação ainda justificaria a manutenção da taxa básica de juros em seu patamar atual".

Uma minoria de membros do Copom considerou que, na reunião da semana passada, não era o caso nem mesmo de discutir um eventual corte de juros. Essa ala mais conservadora diz que ainda existem riscos para a dinâmica inflacionária, "derivados da possível persistência da elevação da inflação deste ano e das consequências do processo de ajuste do balanço de pagamentos".

A projeção central de inflação do BC melhorou em relação a feita na reunião anterior, de outubro. Os números só serão divulgados em detalhes na segunda-feira, quando será publicado o relatório trimestral de inflação. O economista Alexandre Schwartsman, do Santander, calcula que a inflação projetada pelo BC para 2009 esteja entre 4,7% e 4,8%, pouco acima da meta anual, definida em 4,5%.

Schwartsman nota que a projeção de inflação do BC melhorou a despeito de a taxa de câmbio usada nos exercícios econométricos ter subido - era R$ 2,25 em outubro e agora é R$ 2,40. Segundo ele, as indicações são de que a variável que permitiu uma projeção inflacionária melhor foi uma sensível redução nos prognósticos do BC para o crescimento econômico.

Schwartsman prevê, com base na ata, um corte de 0,5 ponto na taxa básica em janeiro. Ele considera, porém, que o Copom está subavaliando os riscos de repasse da recente desvalorização cambial para a inflação - e traça um cenário em que o Copom teria que interromper a distensão monetária na reunião seguinte, em março.

A ata é pontuada, em vários trechos, com referencias à desaceleração recente da economia. "As perspectivas para a atividade econômica se deterioraram desde a última reunião do Copom", afirma o documento. "A persistirem as tendências observadas desde a última reunião do comitê, o ritmo de expansão da demanda doméstica poderia deixar de apresentar riscos importantes para a dinâmica de preços, o que contribuiria para limitar o impacto inflacionário do ajuste do balanço de pagamentos."

Em abril, o BC iniciou um ciclo de contenção monetária, subindo os juros, então em 11,25% ao ano, para conter as pressões inflacionárias decorrentes do superaquecimento da economia. Em outubro, suspendeu o processo de aperto monetário, devido às incertezas sobre como a crise internacional iria afetar o crescimento e a inflação.

Os sinais de arrefecimento da atividade estão refletidos, segundo a ata do Copom, nos indicadores sobre a produção industrial, mercado de trabalho, taxas de utilização da capacidade da indústria, confiança de empresários e consumidores e expectativas de inflação. "Diminuiu a probabilidade de persistência no descompasso entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregadas", afirma a ata.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, foi cobrado durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado pelo fato de o Copom ter mantido os juros inalterados apesar de a maioria dos membros ter discutido uma queda. "É a primeira vez que vejo uma minoria ganhar da maioria", ironizou o presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

"A ata diz que a maioria considerou baixar os juros, não diz que decidiu", afirmou Meirelles. Segundo ele, isso não é inédito: em março de 2008 o BC chegou a considerar uma alta de juros, embora o aperto monetário tenha se confirmado apenas em abril. "A decisão tomada foi equilibrada e importante para evitar uma erosão do poder de compra, o que pioraria ainda mais a situação da atividade econômica", afirmou.

Meirelles lembrou que cortes de juros feitos a todo custo não levam a mais crescimento econômico. "Já houve momentos em que o BC baixou os juros e as taxas de juros do mercado subiram", afirmou. "Se os participantes do mercado acreditam que o Copom vai agir para manter a inflação sob controle, o prêmio de risco cai e as taxas de juros de mercado também caem", disse.