Título: Protecionismo só será discutido em julho pelo G-20
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2009, Internacional, p. A8
Com o protecionismo ameaçando transformar a crise econômica em também crise política, os chefes de Estado e de governo do G-20 deverão deixar para julho a discussão sobre o futuro da Rodada Doha de liberalização comercial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha planos com seu colega francês, Nicolas Sarkozy, de tentar emplacar uma reunião de líderes para tentar reavivar a combalida negociação na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Para o Brasil, um acordo global de Doha pode ser uma das portas de saída para os bilionários subsídios distorcivos que os países desenvolvidos dão a suas indústrias, pelos pacotes de estímulo econômico. Um novo acordo comercial global já limitaria assim o prazo de validade dessas subvenções, ainda mais que esse tipo de compromisso na OMC demora de cinco a dez anos para ser inteiramente implementado.
Ocorre que, até hoje, o governo de Barack Obama não deu indicações de como os EUA vão agir no cenário multilateral, e seus representantes comerciais não foram ainda aprovados pelo Congresso. Além disso, a Índia está em período eleitoral, dificultando ainda mais as articulações.
Assim, nem a reunião de cúpula do G-20 em Londres, em abril, terá espaço para Doha, diante do aprofundamento da crise economica. Haverá só menção a comércio. O encontro para discutir mais a fundo Doha ficará para o G-8. em julho, na ilha de La Margarita, na Sardenha (Itália). O governo italiano convidou o chamado G-5 - Brasil, China, Índia, México e Coreia do Sul, além do Egito.
O resultado é que os governos se pronunciam publicamente contra o protecionismo, mas fazem outra coisa a nível nacional. Isso está até provocando um racha dentro da União Europeia e minando a ideia de um mercado europeu comum para bens e mercadorias. A França quer que seus subsídios sejam usados apenas para a indústria automotiva dentro do país, quando mais de 70% da produção automotiva francesa está no exterior.
Enquanto isso, o Banco Mundial constata que mais de 60 países já anunciaram seus dados de balança comercial para novembro, todos fracos. Na média, as importações caíram 14%, e as exportações, 17%, em relação ao mesmo mês de 2007. Por sua vez, 22 países já apresentaram dados comerciais de dezembro. O comércio também é fraco, mas houve países com melhora nas exportações. Ou seja, a situação é ruim, mas não piorou ainda.
O curioso é que, em meio à enorme crise financeira, o G-8 continua preparando seu encontro de cúpula na Itália somente com reuniões de seus ministros, ignorando os emergentes. Isso quando cresce a pressão para que o G-20 financeiro se torne de fato o centro da cooperação econômica e financeira global.