Título: Mantega diz a Lula que cenário está melhor
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2009, Brasil, p. A3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem, durante reunião da coordenação política, que a percepção dos efeitos da crise internacional sobre o Brasil vem se alterando para melhor nas últimas semanas. Em relato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para outros ministros que integram o núcleo de decisões do Executivo, Mantega disse que alguns analistas e economistas que previam um cenário sombrio para o ano começam a rever suas posições, diante da reação positiva de diversos setores econômicos.

Segundo assessores governistas, esses novos números foram expressos, por exemplo, na retomada da produção industrial em São Paulo, comprovada por pesquisa da Fundação Getúlio Vargas divulgada semana passada e no aumento da produção automobilística, impulsionado pela redução do IPI que aqueceu a venda de carros novos no país.

Segundo um ministro com gabinete no Palácio do Planalto, ainda não há nenhuma razão para comemorações ou sinais de euforia, já que a crise continua grave em diversos pontos do mundo. "O governo continuará atento e tomará todas as medidas que forem necessárias para combater os efeitos da crise internacional no Brasil", afirmou esse ministro.

O discurso de Mantega, contudo, segundo esse auxiliar do presidente, serviu para reforçar a avaliação de que as ações do governo têm sido corretas, que o Brasil está em melhores condições de enfrentar a crise internacional e que não haverá recessão por aqui, a exemplo do que vem enfrentando as nações do Primeiro Mundo. O Japão, por exemplo, enfrenta a pior recessão dos últimos 35 anos.

Medidas como a redução do IPI, os esforços da equipe econômica para oferecer mais crédito à população e a pressão para a redução dos spreads estariam ajudando nesta mudança de percepção. "O spread ainda precisa baixar mais acentuadamente. Mas algumas reduções já são percebidas, especialmente nas taxas cobradas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal", disse um ministro próximo do presidente.

O governo continua acreditando que a desaceleração econômica não será tão profunda como se imaginava no início. Aposta que boa parte das férias coletivas e as demissões ocorridas no fim do ano passado serão revertidas com o fim dos estoques e a necessidade de reaquecimento da produção. Outra análise vê com bons olhos o aumento da demanda da China, país que estaria começando a superar os efeitos da crise e que, se retomar o crescimento, fatalmente provocará um aumento no preço das commodities, algo que beneficiará o Brasil.

"Nossa meta continua sendo crescer 4% ao ano. Se vamos conseguir ou não, é outra questão. Agora, tem analistas que estão dizendo hoje que o Brasil cresce só 1,5%, 2% em 2009. Talvez eles tenham que se explicar em dezembro e venham a ser cobrados pelo que falam agora", disse um influente ministro do governo. Além da crise econômica, a coordenação política fez ainda uma avaliação positiva do encontro de prefeitos na semana passada. A análise é que o encontro foi exitoso por ter estabelecido um novo patamar na relação entre a União e os municípios.