Título: Uribe pede para Brasil investir mais na Colômbia
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2009, Brasil, p. A4

No primeiro dia da visita ao Brasil, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, reclamou do déficit no comércio bilateral e, em troca, pediu aos empresários mais investimentos. "O Brasil encontrou na Colômbia um bom cliente. Por isso, necessitamos de muitos investimentos", disse. "Apesar da crise, precisamos que o Brasil não se esqueça da Colômbia." AP Photo/Nelson Antoine

Presidente colombiano Álvaro Uribe: "O Brasil encontrou na Colômbia um bom cliente e por isso, necessitamos de muitos investimentos"

Preocupado com o impacto da crise global, que vai reduzir as exportações colombianas e aumentar o desemprego, Uribe quer garantir o fluxo de investimentos. A paralisia na aprovação do tratado de livre comércio entre Colômbia e Estados Unidos pelo Congresso americano também aumenta a importância das relações com o Brasil.

Em 2008, a Colômbia teve déficit de US$ 1,46 bilhão com o Brasil. O saldo negativo se manteve, apesar do recuo de 1,9% nas exportações brasileiras para o país, para US$ 2,3 bilhão, e da alta de 94% das importações de produtos colombianos, para US$ 829 milhões. Em 2007, o déficit estava em US$ 1,9 bilhão.

Não por acaso a visita de Uribe começou ontem por São Paulo com uma ofensiva de charme ao setor produtivo. Hoje ele se reúne com o presidente Lula em Brasília. O mandatário colombiano participou de almoço com empresários promovido Grupo de Líderes Empresariais (Lide) e, à tarde, teve uma reunião fechada na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Segundo uma fonte presente ao encontro na Fiesp, Uribe informou ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que estava sentado ao seu lado, que gostaria de retomar as conversas com a estatal. Conforme o relato da fonte, o presidente colombiano disse que a suíça Glencore desistiu de investir na refinaria Cartagena, a segunda maior da Colômbia. Em 2006, a Glencore ganhou o negócio ao oferecer uma proposta maior que a Petrobras.

O presidente colombiano foi enfático ao insistir em investimentos dos frigoríficos e dos laticínios brasileiros. Segundo ele, a Colômbia não tem condições de industrializar toda carne e leite que produz. A proposta foi bem-vista pelas empresas. "Estamos no Uruguai, na Argentina e no Paraguai. Por que não na Colômbia?", disse Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Carne Bovina (Abiec) e diretor de comércio exterior da Fiesp.

Outro ponto abordado por Uribe foi a parceria na produção de biocombustíveis. O país é o segundo maior produtor de cana de açúcar da América do Sul, mas ainda bem atrás do Brasil. A Colômbia já mistura etanol com gasolina, mas ainda não adotou veículos flex-fluel. Nos dois encontros, Uribe disse que o principal ativo da Colômbia é a "confiança" e o "ambiente seguro para investimentos", ao contrário de outros países da região.

Também participaram da reunião na Fiesp empresários da Odebrecht, Camargo Corrêa, Votorantin e Gerdau. Na avaliação de um dirigente empresarial, as empresas brasileiras estão cada vez mais atrativas para os países da América Latina. "O Brasil é uma fonte de investimento ágil, porque conhece a região, e isso se torna fundamental em um momento de falta de capitais", disse.

Segundo Mario Marconini, diretor de relações internacionais da Fiesp, a entidade planejava solicitar aos colombianos que concedessem ao Brasil os mesmos benefícios oferecidos aos EUA, país com o qual a Colômbia negociou um tratado de livre comércio mais ambicioso. O acordo EUA-Colômbia, no entanto, está parado no Congresso americano. "No acordo com os EUA, a Colômbia tem que agir com uma combinação de paciência e insistência", reconheceu Uribe.