Título: PMDB repudia acusações de Jarbas mas descarta punição
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2009, Política, p. A9

O presidente nacional do PMDB e presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (SP), manifestou ontem "repúdio" às acusações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) contra o partido, em entrevista à revista "Veja", mas descartou eventuais punições ao pemedebista. Em entrevista coletiva, Jarbas reafirmou suas críticas e, apesar de admitir ser "altamente minoritário" no PMDB, negou a intenção de deixar o partido. Alan Marques/Folha Imagem

Jarbas: "Abri o debate, que sei que é polêmico. Não retiro uma vírgula do que disse. Mas não sou eu que vou comandar esse processo"

"Não queremos dar relevo a algo que não tem especificidade. Se houver especificidade, evidentemente iremos apurar. Não há intenção de apenar o senador Jarbas", afirmou Temer, no início da noite, depois de um dia de muitas conversas de bastidores entre os dirigentes partidário. Segundo ele, para a direção do partido, "o assunto não vai adiante pela fragilidade das informações", que considerou "genéricas".

Dissidente da legenda e opositor do governo Luiz Inácio Lula da Silva, Jarbas acusou o PMDB de corrupção e fisiologismo, fez duros ataques ao presidente do Senado, José Sarney (AP), e ao líder da bancada na Casa, Renan Calheiros (AL), e revelou que seu candidato à Presidência da República é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

Jarbas afirmou que a maioria dos pemedebistas se especializou em "manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral", considerou um "retrocesso" a eleição de Sarney a presidente do Senado e acusou Renan de "não tem condição moral ou política" para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido.

Com a intenção de minimizar o impacto da entrevista, a Executiva Nacional do PMDB divulgou pela manhã uma curta nota oficial, na qual classifica a entrevista de Jarbas à "Veja" como um "desabafo" e diz que o partido "não dará maior atenção" às declarações por considerá-las "generalidade".

A entrevista "não aponta nenhum fato concreto que fundamente suas declarações. Ademais, lança a pecha de corrupção a todo o sistema partidário quando diz que a "corrupção está impregnada em todos os partidos"", diz a nota.

Sarney e Renan preferiram o silêncio. Sarney ficou em seu gabinete no Senado e Renan permaneceu em casa, sendo informado da repercussão da entrevista. Por sua vez, Jarbas chegou a Brasília e, assediado pela imprensa, concedeu uma entrevista coletiva, reafirmando tudo o que dissera à revista e reagindo às cobranças que está sofrendo para que apresente provas das denúncias.

"Abri o debate, que sei que é polêmico. Não retiro uma vírgula do que disse. Mas não sou eu que vou comandar esse processo. Não quero citar casos específicos. Dei o pontapé inicial e agora espero que haja uma pressão de fora para dentro para mudar essa prática fisiológica", disse.

Segundo o ex-presidente do PMDB (1989-90) e ex-governador de Pernambuco (1999-2002 e 2003-2006), esse "descaminho" do PMDB vem ocorrendo de dez anos para cá. "Há dez anos o PMDB não pensa em outra coisa", disse o senador, referindo-se à busca por cargos.

"Não é de hoje que o PMDB tem sido corrupto. Mas o Lula tem sido conivente com a corrupção. Não foi o Lula e o PT que inventaram essa corrupção, mas essa tem sido a marca do governo dele. A marca do toma-lá-dá-cá", disse. E completou: "Por isso o PMDB vai para lá". Jarbas afirmou pertencer a uma minoria do PMDB que não quer ir para outra legenda. Disse que vai lutar por uma reforma política no país e que só depois é que poderia pensar na criação de um novo partido. "Admito ir para outro partido numa coisa nova, depois de uma reforma política", disse.

Nos bastidores, pemedebistas comentavam o fato de Renan ter articulado, há cerca de um ano, a ida do ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), do PTB, também pernambucano, para o PMDB, num movimento para enfraquecer a liderança de Jarbas no Estado. À época, o senador reagiu dizendo que, se Múcio fosse para o partido, ele sairia. Ontem, num Senado esvaziado, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez discurso com elogios a Jarbas, mas alguns reparos à entrevista. Uma das poucas reações partiu do senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC), que enviou carta a Jarbas cobrando "explicações" do ex-governador.