Título: Vitória de Chávez deixa a oposição sem agenda
Autor: Moura , Marcos
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2009, Internacional, p. A10

A vitória do presidente Hugo Chávez no referendo de domingo, que permitiu a reeleição indefinida na Venezuela, deixa a oposição com um trunfo duvidoso nas mãos: a crise econômica mundial. O próximo embate eleitoral está marcado para 2010, quando os venezuelanos elegem uma nova Assembleia (o Legislativo do país).

Chávez obteve no domingo 54% de votos favoráveis à sua proposta e a oposição, 45%. Com a mudança, o presidente e todos os demais ocupantes de cargos eletivos no país poderão disputar quantas eleições desejarem. Eleito pela primeira vez em 1999, Chávez pretende se reeleger em 2012 para mais um mandato de seis anos.

Para tentar minar a força eleitoral do presidente, já na disputa do ano que vem, os partidos de oposição tendem a apostar nos efeitos da crise sobre a economia do país para reforçar os ataques à ineficiência de gestão do governo Chávez.

Muitos economistas e analistas venezuelanos acreditam que o governo já prepara medidas econômicas para atenuar os efeitos da queda dos preços do petróleo, que poderão se intensificar em 2010. Algumas previsões apontam que o país terá uma redução de US$ 50 bilhões nas exportações agora em 2009. No ano passado, o país exportou US$ 90 bilhões - principalmente petróleo.

Do ponto de vista da disputa política, seria um momento favorável para a oposição formar uma bancada relevante no Parlamento, hoje praticamente dominado por forças do governo. A estratégia, no entanto, faz água se os preços do petróleo voltarem a subir.

A oposição venezuelana padece de várias debilidades: não consegue produzir um nome forte que a represente e que rivalize com Chávez e tem sua imagem ainda associada às antigas elites políticas que se alternaram no poder durante e 40 anos que antecederam o chavismo. "Não há uma pessoa com força na oposição", diz Natalia Brandler, coordenadora do curso de Ciência Política da Universidade Simón Bolivar. Alguns governadores atraem as atenções do eleitorado insatisfeito com o presidente, mas diante da máquina do governo têm chances limitadas de enfrentá-lo, diz Brandler.

Mesmo assim, o desempenho da oposição nas urnas melhorou muito nas últimas disputas e consultas eleitorais. Segundo balanço do Centro de Investigaciones Económicas, um centro de pesquisa de Caracas, entre 2004 a 2009 - período em que ocorreram três referendos e duas eleições - o número de eleitores aumentou em 1,2 milhão. A parcela de eleitores governistas aumentou 202,9 mil e os de oposição, 1,05 milhão. No domingo, a oposição atingiu uma marca inédita de mais de 5 milhões de votos contra Chávez. Nas eleições para governador no ano passado, opositores conquistaram regiões importantes no país.

Com o apoio renovado nas urnas no domingo, Chávez tende a apostar em medidas populistas, que agradem ao eleitorado, ainda que não sejam as mais saudáveis para as contas do país, diz Luis Vicente León, diretor do Datanalisis, um dos mais respeitados institutos de pesquisa do país. Em seu discurso no domingo, após a divulgação dos resultados, Chávez disse que iria se concentrar no combate à violência urbana crescente. Segundo ele, a vitória de domingo inaugura uma nova fase de sua revolução que vai de 2009 a 2019.