Título: Brasil espera tom mais brando do venezuelano
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2009, Internacional, p. A10

A aprovação do referendo constitucional na Venezuela que garante o direito a reeleição ilimitada deve levar o presidente Hugo Chávez a abrandar o tom de seus pronunciamentos públicos, na avaliação dos diplomatas brasileiros. Com mais três anos de mandato e a possibilidade de se reeleger, Chávez deve deixar a retórica de lado e concentrar-se em buscar soluções para a crise econômica do país, duramente afetado pela queda nos preços do petróleo.

Chávez, em breve, deve apresentar seu plano econômico para lidar com a crise, e a vitória do governo no referendo alimenta temores de que ele tente trazer de volta à agenda política temas em que já foi derrotado anteriormente, como a tentativa de mudar os currículos escolares para adaptá-los ao ideário "bolivariano". Na avaliação de diplomatas brasileiros, esse caminho deve ser evitado por Chávez, porque tende a ajudar a oposição a juntar forças contra ele.

O governo tem feito gestões no Congresso para aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul. Embora reconheçam que a perspectiva de reeleição ilimitada de Chávez será usada como argumento contra pela oposição no Brasil, assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva argumentam que o esperado comportamento mais brando do líder venezuelano pode servir de contra-argumento.

Não há certeza de que, apesar da possibilidade de reeleição e do flagrante uso da máquina pública, as condições políticas e econômicas da Venezuela em 2012 permitam a Chávez uma campanha tranquila para permanecer no poder. É certo, porém, que não há, no ambiente político venezuelano, nenhum nome de peso hoje para se contrapor a Chávez em uma eleição - nem o próprio Chávez teria um candidato oficialista para sucedê-lo, caso tivesse fracassado no referendo.

Chávez amenizou sua retórica inflamada em questões internacionais, embora ainda seja motivo de preocupações no continente sua aproximação com o Irã. O venezuelano saudou a chegada de Barack Obama ao poder nos EUA e reatou relações com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, forçado pela dependência mútua em matéria de comércio.