Título: Não sabemos ainda o tamanho da crise, diz Meirelles
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2009, Brasil, p. A3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, apresentou a sindicalistas e empresários do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social uma série de gráficos mostrando que a redução da taxa básica de juros, a Selic, não significa, automaticamente, diminuição na taxa de juros cobrados pelo mercado. Durante reunião do Comitê de Monitoramento da Crise do CDES, realizada segunda-feira em São Paulo, Meirelles mostrou que em vários momentos recentes a Selic foi reduzida e os juros futuros dispararam.

Em relação ao pedido para redução para 30 dias do intervalo entre uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e outra, Meirelles brincou com os conselheiros. "Estou rouco de tanto ouvir", e acrescentou: "Não posso me manifestar sobre essas coisas porque, qualquer declaração que eu der, influenciará o mercado", segundo relato de um dos presentes.

O presidente do BC fez uma apresentação detalhada das ações tomadas pelo governo nos últimos meses. Mas não compartilhou do discurso otimista que permeou, por exemplo, a reunião da coordenação política de segunda-feira. Segundo o núcleo central do governo, alguns analistas já começam a reverter a expectativas negativas em relação aos números brasileiros. Segundo um dos presentes na reunião de São Paulo, Meirelles foi bem mais cauteloso. "Ñão sabemos ainda qual é o tamanho da crise, não temos certeza se chegamos ao fim e estamos vivendo apenas as consequências ou se outros abalos que gerem insegurança nos mercados ainda virão", afirmou o presidente do BC, de acordo com a mesma fonte.

Mesmo assim, Meirelles disse que há pontos que precisam ser frisados. Segundo ele, a cobrança feita pelo governo sobre os bancos públicos para reduzir o spread, bem como a decisão do BC de publicar um ranking das taxas de juros cobradas pelas instituições bancárias, vem surtindo efeito. Durante a reunião, que contou também com a participação do presidente do Banco do Brasil, Francisco Lima Neto, da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda e do BNDES, Luciano Coutinho, foi apresentado um dado mostrando que a taxa média de juros do BB caiu de 46,1% para 28,4%.

Outra medida apontada por Meirelles para contribuir para uma maior competição entre os bancos e a redução nas taxas cobradas ao consumidor seria a aprovação, pelo Congresso, do chamado Cadastro Positivo. A ideia do projeto é destacar os bons tomadores de crédito, em vez de apenas focar a ação em cadastros negativos, como Serasa e SPC.

Os presidentes dos bancos públicos também fizeram uma exposição na reunião, que durou cinco horas. Coutinho mostrou o aumento nas linhas de financiamento do BNDES aprovadas depois da eclosão da crise e ressaltou que elas não serão cortadas ou bloqueadas, mesmo com a deterioração do cenário internacional. Mas fez um alerta, lembrando que nem sempre as decisões do governo conseguem atingir com rapidez a ponta do sistema.

Citou, por exemplo, a linha de crédito de R$ 6 bilhões para capital de giro confirmada pelo governo na semana passada. "Sozinho, o BNDES tem condições de emprestar R$ 1 bilhão. Mas precisamos da parceria com outros bancos públicos e este ritmo está mais lento. O dinheiro está disponível mas não está sendo utilizado", disse Coutinho, de acordo com relato dos presentes.

Para o presidente da CUT, Artur Henrique, os bancos públicos precisam ser mais firmes na redução das taxas cobradas dos clientes. Ele propôs um desafio: a CUT levaria, graças ao direito à escolha do banco para abrigar a conta-salário, 400 mil trabalhadores para a CEF e o BB e os bancos reduziriam as taxas de empréstimo pessoal, e de financiamentos de carros e casas.

Os presidentes dos bancos prometeram estudar a proposta e disseram que, para atuar de forma mais incisiva na crise, estão buscando ampliar sua participação no mercado, em novos segmentos de atuação.