Título: Serra cede e aceita prévias para a escolha de candidato do PSDB em 2010
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2009, Política, p. A9

O governador de São Paulo, José Serra, concordou com a realização de prévia partidária para a escolha do candidato do PSDB a presidente da República, nas eleições de 2010, conforme era reivindicado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que disputa com ele a indicação dos tucanos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Silvia Costanti / Valor

Serra: governador sai da defensiva em que lhe colocou seu colega, Aécio Neves

A decisão de Serra foi comunicada ao presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), na noite de anteontem, em jantar em São Paulo que reuniu também o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Além de concordar com a prévia, o governador disse que não pretende tratar de candidatura agora mas deixou claro que vai participar da primária tucana.

Com a decisão, Serra tira o discurso de Aécio, cuja defesa contundente das prévias deixou na defensiva o governador paulista. Serra também sinaliza para os integrantes do PSDB que não teme a disputa de uma eleição primária com Aécio, como insinuavam os adversários até do PT.

Antes de regulamentar quando e como serão as prévias, o PSDB quer ouvir o que tem a dizer o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o assunto. Segundo apurou o Valor, a tendência do tribunal é dizer que se trata de matéria partidária, mas que a eleição não poderá ferir a legislação eleitoral. Ou seja, não pode comício em lugar aberto, outdoors ou arrecadação pelos candidatos.

A decisão do PSDB será tomada ainda neste ano, provavelmente no segundo semestre, segundo Guerra anunciou ontem. Mas talvez já em 30 de março os tucanos tenham material preliminar sobre as regras do jogo. Mas a consulta aos filiados do partido somente deve ser feita no ano da sucessão presidencial, em 2010.

Os tucanos querem esticar o prazo para a realização da prévia de modo a não correrem nenhum risco de ser acusados de infringir a legislação eleitoral, como fazer campanha antecipada, fora do prazo legal. Além disso, é sempre um tempo para permitir que Serra e Aécio possam chegar a algum tipo de entendimento sobre a candidatura.

No jantar, Sérgio Guerra falou sobre a determinação de Aécio no que se referia à realização das prévias. Além disso, explicou, o PSDB já havia tomado uma decisão sobre o assunto, o que Serra, aparentemente, desconhecia. Guerra então explicou que ao deixar a presidência do PSDB o senador Tasso Jereissati (CE), seu antecessor, deixara o projeto encaminhado, a partir de um amplo estudo feito pelo sociólogo Antonio Lavareda.

Em 2007, quando a Executiva Nacional tratou de prévias, não chegou a haver votação, mas foi consensual a adoção da proposta. Chegou-se inclusive à decisão de fazer testes nas eleições municipais de 2008, o que não chegou a ocorrer porque não houve nenhum confronto significativo entre tucanos, nas capitais. Houve um pequeno teste no Acre, num colégio de pouco mais de uma centena de eleitores.

Depois de ouvir a explicação, Serra disse que não se opunha a realização da prévia, que o partido tinha seu apoio para organizá-la e que era sua disposição disputar a eleição. "Eu vou concorrer", disse Serra aos presentes.

Serra, no entanto, disse a Guerra e FHC que não lançaria sua candidatura a presidente agora, quando ainda tem uma agenda cheia para tratar no governo de São Paulo. Segundo Serra argumentou com os presentes, o importante para ele agora era combater os efeitos da crise em São Paulo e não sair pelos Estados fazendo campanha eleitoral para candidato a presidente.

"Estou procurando trabalhar para minimizar os efeitos da crise sobre a população do Estado de São Paulo e naquilo que São Paulo contribui para o resto do país", disse o governador, segundo testemunho de presentes ao jantar feito ao Valor.

Os comentários feitos por Serra não deixam de ser uma estocada no governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que anunciou sua intenção de percorrer o país em campanha, a partir de março.

Depois de ouvir o relato de Guerra, o ex-presidente também concordou a realização das prévias: "Se o Aécio quer, tem o direito de postular", foi a resposta de FHC, segundo um dos tucanos. Ao contrário de Serra, FHC defendia a antecipação da definição do candidato tucano.

O governador de São Paulo trabalha com outro tempo: se for ele o candidato escolhido e antecipar o processo eleitoral, acredita que vira alvo da oposição em São Paulo, precipita o processo de sucessão no Estado e passa a correr riscos legais, como o PSDB acredita que tem ocorrido com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

Os tucanos acham que a aprovação de Serra às prévias é uma saída honrosa tanto para ele quanto para o governador de Minas e o PSDB, pois retira do discurso do governador mineiro um eventual pretexto para ele deixar o partido. Mas existe a expectativa que Aécio crie novos fatos para tentar colocar Serra na defensiva.