Título: Alencar deixa o hospital e se diz privilegiado
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Fonte: Valor Econômico, 18/02/2009, Política, p. A9

O vice-presidente da República José Alencar, de 77 anos, recebeu alta ontem, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, 22 dias depois de fazer uma cirurgia para a retirada de tumores no retroperitônio, na parte posterior do abdome. Em entrevista ao deixar o hospital, Alencar, emocionado, agradeceu aos médicos e disse que sua coragem em enfrentar a doença se deve ao fato de não temer a morte. Alencar também lamentou o fato de o país não poder oferecer "ao povo brasileiro" o mesmo tratamento que ele recebeu para cuidar do câncer.

De cadeira de rodas, Alencar não perdeu o humor ao falar com os jornalistas, chegando a pedir desculpas aos repórteres pela "barbeiragem" quando bateu a cadeira na porta da sala. Mas a emoção tomou conta do vice-presidente quando ele comentou a política de saúde do país. "Tenho tido um privilégio e fico às vezes com sentimento de culpa porque sou vice-presidente e sei que todos os brasileiros deveriam ter esse tratamento. Se tivessem, as expectativas de vida seriam outras. É triste não poder oferecer aos brasileiros o que eu recebi", disse Alencar durante a entrevista, que durou cerca de 30 minutos.

Alencar disse ter refletido muito sobre sua própria vida: "Não quero que Deus me dê nem um dia a mais de tempo de vida, a não ser que eu possa me orgulhar dele", disse o vice-presidente, agradecendo as manifestações de "carinho e apreço" que disse ter recebido de "Norte a Sul do país".

Perguntado sobre o que o motivou a ter tanta força para lidar com o tratamento, Alencar respondeu: "Isso pode ser um equívoco. Onde está a coragem para um cidadão que não tinha outra alternativa? Não tinha outra opção. Era o vai ou vai".

O oncologista Adhemar Lopes, que chefiou a equipe que atendeu Alencar, explicou que o vice-presidente colocou dois cateteres para fazer quimioterapia intraperitonial. Sobre a cirurgia, que durou 18 horas, Lopes disse que um dos momentos mais tensos foi a retirada da veia ilíaca, que foi infiltrada pelo tumor. "Foi um trabalho de chinês, uma cirurgia de grande complexidade e risco".

Alencar seguiu para seu apartamento em São Paulo, localizado no bairro dos Jardins (zona Sul da cidade), onde passará pelo período de recuperação que inclui sessões de fisioterapia. Ele disse que estava ansioso para comer "o arroz e feijão de casa".

Pouco antes de terminar a coletiva, Alencar, que é filiado ao PR, também falou sobre as críticas do senador Jarbas Vasconcelos ao PMDB feitas em entrevistas à revista "Veja": "Sou suspeito para falar do PMDB. Meu primeiro partido foi o PMDB, minha primeira eleição foi pelo PMDB e fui eleito senador pela primeira vez pelo PMDB. Tenho dentro do PMDB grandes amigos. Agora, no hospital, não aparecem assuntos de política. Confesso que nem li as declarações", disse Alencar, lembrando ter deixado o PMDB por circunstâncias, e não por brigas internas.

Os jornalistas também queriam saber a opinião do vice-governador sobre a taxa de juros, tema sempre presente nas suas críticas. Quando visitou Alencar no hospital, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que Alencar iria se recuperar em pouco tempo e que a primeira coisa que ele falaria "quando abrisse os olhos" era sobre os juros. "Não falo mais sobre taxas de juros, porque todo mundo fala mal das taxas de juros", respondeu Alencar, em tom irônico.