Título: Pessimismo volta a dominar os mercados
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Fonte: Valor Econômico, 18/02/2009, Opinião, p. A12
Os mercados acionários ao redor do mundo levaram outra surra ontem, sepultando as expectativas de consolidação da ligeira melhoria esboçada neste início do ano. Não poderia ser diferente se o olhar dos investidores se concentrasse no desempenho econômico dos principais países desenvolvidos e emergentes. A retração dessas economias em dezembro foi mais rápida e mais forte do que se previa, tornando as perspectivas de um início de recuperação global no segundo semestre ainda mais remotas. A situação seria um pouco diferente se os dois pacotes anunciados pelo governo de Barack Obama não estivessem envolvidos o primeiro em uma barganha política que o desfigurou parcialmente e o segundo, em uma indefinição de meios e fins. Na ausência de boas notícias, os mercados estão se orientando pela lei da gravidade e afundam, até que os pacotes comecem a dar resultados, o que não ocorrerá tão cedo.
É previsível que falte gás para a recuperação das bolsas. Não há boas perspectivas para as empresas diante do forte recuo dos mercados consumidores e da atrofia do sistema de crédito. No mundo rico, companhias sólidas apresentam desempenho declinante por trimestres a fio e as intenções de investimento sumiram do horizonte. O Japão é um paradigma do que ocorre em boa parte dos países desenvolvidos e em alguns emergentes asiáticos. A máquina exportadora japonesa entrou em pane e a economia encolheu 3,3% no quarto trimestre. A zona do euro está em recessão - o PIB da região diminuiu pelo terceiro trimestre sucessivo - e ela se aprofundou no último trimestre: -1,5%. A média esconde os péssimos comportamentos da Alemanha (-1,6%), o maior exportador mundial e maior economia europeia, Itália (-2,6%), Espanha (-1%) e Reino Unido (-1,8%).
Entre os emergentes, a situação econômica agravou-se significativamente em toda parte, principalmente na Rússia. A produção industrial do país recuou 20% em janeiro e as próprias estimativas oficiais foram revistas - de um PIB 0,2% menor para -2,2%. A Rússia, apesar das majestosas reservas de US$ 597 bilhões em agosto, vive às vésperas de uma crise cambial. Já perdeu US$ 200 bilhões tentando deter a queda do rublo e setores do governo pressionam por um controle de câmbio para estancar a fuga de capitais. A dívida das empresas russas é superior aos US$ 383 bilhões de reservas atuais e não está descartada uma reestruturação imposta pelos devedores, como a Rússia fez em 1998. A situação de seus vizinhos é desoladora. Hungria, Ucrânia, Belarus e Latvia, por exemplo, já estão sendo sustentados por linhas de auxilio financeiro do Fundo Monetário Internacional.
Se o "velho mundo" foi antes duramente atingido pela quebra virtual de seu sistema financeiro, o mesmo não ocorreu com os países emergentes asiáticos, que até o início da crise era o polo dinâmico da expansão econômica global e dava esperanças de que a crise global poderia ser amenizada. Estas esperanças ficaram para trás. O PIB da Coreia do Sul diminuiu 5,6% no último trimestre de 2008. O gigante chinês caminha cada vez mais vagarosamente, depois de uma década de passos velozes. As exportações em janeiro recuaram 17,5%, o maior tombo em mais de uma década, e as importações caíram 43,1%. Não houve praticamente crescimento no último trimestre de 2008 em relação ao anterior e a estimativa é de que o país feche 2009 com expansão de 7,4%. A Índia sofrerá um baque, mas será um dos poucos países da região em que haverá crescimento, algo em torno de 5,6%, ante os 8% previstos no ano passado. O resto da Ásia estará em recessão, o que inclui o Japão, Cingapura, Taiwan e Hong Kong.
Comparativamente, o Brasil teve um bom desempenho até agora. A economia deve apresentar crescimento no ano, se a situação externa não piorar muito mais do que piorou até agora, o que não é seguro. As exportações devem cair mais do que o previsto em um ambiente de crescimento zero do comércio internacional e, por enquanto, de fortalecimento do dólar. Há sinais de que a produção industrial reagiu moderadamente em janeiro e fevereiro, depois da forte queda de dezembro, embora provavelmente tenha se expandido menos do que nos mesmos meses de 2008. Mas a esta altura, crescer 2% será um feito notável.