Título: Mineradoras disputam mina de US$ 2 bi na Mongólia
Autor: Reuters, de Hong Kong
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2009, Empresas, p. B10

A Vale, a Xstrata e a Rio Tinto estão entre as companhias que apresentaram propostas para desenvolver a mina de carvão de Tavan Tolgoi, na Mongólia, avaliada em US$ 2 bilhões, segundo duas fontes com acesso direto ao assunto.

O governo da Mongólia contratou o Deutsche Bank e o JP Morgan para vender até 49% de participação no depósito. A BHP Billiton e a gigante do carvão China Shenhua Energy também fizeram propostas, segundo as fontes.

Tavan Tolgoi, normalmente chamada de o maior depósito não utilizado de carvão metalúrgico do mundo, tem reservas de 6,5 bilhões de toneladas e também está atraindo propostas de consórcios japoneses, russos e de empresas coreanas, disse uma das fontes.

Desde 2005, a Vale cobiça essa mina. Informações obtidas no próprio site da companhia revelam que em junho daquele ano a mineradora brasileira e a Itochu Corporation, trading japonesa, assinaram um memorando de entendimentos para formação de um consórcio visando fazer proposta para compra de direito de exploração e futuro desenvolvimento do depósito de carvão de Tavan Tagoi. O acordo não envolvia compromisso societário e é similar a outros já assinados pela Vale, mas ainda está valendo, segundo a gerência de comunicação da Vale que nada quis declarar sobre a presença da companhia na disputa pela mina.

A Vale atua em prospecção mineral desde 2004 na Mongólia, onde constituiu uma subsidiária integral, a Tethys Mining. O propósito da subsidiária é executar programas de exploração mineral e desenvolver projetos. A Tethys tem licença para prospecção de cobre, carvão e ouro em 3,6 milhões de hectares, área superior ao Estado de Alagoas. A Vale já investiu quase US$ 6 milhões na Mongólia, onde tem 80 trabalhadores contratados para atividades de campo e e outros 28 no escritório, na capital Ulaanbaatar.

As propostas têm sido entregues em diferentes formas, algumas são ofertas detalhadas de desenvolvimento do depósito e outras são expressões de interesse de uma página, afirmou o membro do banco de investimento. "Basicamente, carvão de coque de boa qualidade é uma commodity bem escassa no longo prazo e tais ativos tão grandes são difíceis de aparecer, então as empresas com visão de longo prazo podem considerar os ativos atraentes", disse Malcolm Southwood, analista do Goldman Sachs, em Melbourne.

A oferta restrita de carvão metalúrgico em 2008 ajudou a mais que dobrar seu preço, usado na siderurgia, para US$ 300 a tonelada, uma vez que siderúrgicas ao redor do mundo consumiram grandes quantidades da commodity quando o mercado ainda estava passando por expansão acelerada. Apesar dessa alta desde o boom e após a queda na demanda por aço, analista afirmam que o cenário de longo prazo para os preços de carvão de coque duro continua robusto.

Informações da imprensa indicam muitos interessados na mina, como a japonesa Itochu Corporation e a Peabody. Mas o processo tem sido atravancado por atrasos, uma vez que a Mongólia ajusta suas leis de mineração. Nenhum cronograma para o desenvolvimento da mina foi confirmado.

A versão de 2006 da legislação de mineração permitia ao Estado compartilhar uma parcela de até 34% dos depósitos encontrados com fundos privados e até 50% dos descobertos com recursos estatais. A Mongólia desde então tem adiado a revisão da lei.

A BHP tinha ganho originalmente o direito de desenvolver Tavan Tolgoi na década de 90, mas chegou à conclusão de que não era economicamente viável na época e devolveu a licença à Mongólia.

A venda da Tavan Tolgoi, que significa "cinco cabeças" por causa do contorno do local rodeado por morros, pode dar à Mongólia, que tem renda per capita anual de US$ 1.200, até US$ 2 bilhões, mais receitas geradas por sua participação majoritária.

A endividada Rio Tinto, que na semana passada fechou acordo para receber quase US$ 20 bilhões em investimentos da produtora estatal chinesa de alumínio Chinalco, já tem um projeto conjunto na Mongólia com a canadense Ivanhoe Mines, o depósito de ouro e cobre de Oyu Tolgoi.

Representantes de Vale, Xstrata e Shenhua não estavam imediatamente disponíveis para comentar o assunto. BHP e Rio não se pronunciaram quando procuradas pela Reuters. (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Valor, no Rio)