Título: Para Dilma, oposição quer judicializar debate
Autor: Boechat , Yan
Fonte: Valor Econômico, 19/02/2009, Política, p. A8

A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou ontem que a decisão do Democratas de impetrar uma representação no Supremo Tribunal Federal (TSE) por campanha fora de época contra ela e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem como objetivo principal interditar as ações do governo federal. De acordo com a ministra, os partidos de oposição estão reagindo ao fato de o governo estar mantendo os investimentos mesmo em um momento de crise. "É clássico de quem não tem projeto para o Brasil, de quem não tem o que mostrar, agora querem judicializar a atividade administrativa do governo", afirmou a ministra após uma palestra sobre os desdobramentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na sede da Força Sindical, em São Paulo.

Apesar das críticas aos partidos de oposição e os repetidos desmentidos de que suas últimas aparições públicas tiveram algum caráter eleitoral, Dilma Rousseff voltou ontem a adotar o tom professoral e burocrático que a caracterizou no governo Lula. Durante a palestra ministrada para os delegados da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CMNT), Dilma falou basicamente sobre a crise econômica mundial e os desdobramentos do PAC. Não citou em momento algum a necessidade de continuidade do governo Lula e evitou comentar as insinuações de vários sindicalistas de que ela será a candidata do governo nas eleições de 2010.

Os cerca de 800 participantes, a maior parte deles vindos de diversos estados do país para a eleição do novo presidente da CMNT, ficaram frustrados. Primeiro encontro direto entre Dilma e o movimento sindical, a expectativa era de que a ministra faria um movimento de aproximação mais consistente do que uma simples palestra técnica. "Nós não a conhecemos ainda, queremos saber qual o comprometimento dela com o movimento sindical, o encontro vai servir para uma aproximação", disse o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT), presidente da Força Sindical, antes da palestra da ministra. "Após esse encontro existe a possibilidade de estreitarmos nossas relações", disse, referindo-se a um possível apoio da Força Sindical à candidatura de Dilma.

Os afagos à Força Sindical, se aconteceram, foram em particular. Durante a palestra de mais de quarenta minutos Dilma foi, no máximo, didática. Tentou explicar de forma simples aos metalúrgicos como a crise se desenvolveu, mas não conseguiu evitar os termos econômicos mais técnicos. "A crise é igual gripe, e nossa vacina são os bancos públicos", afirmou. "E aqui no Brasil nós temos o compulsório para dar liquidez ao sistema sem empregar recursos públicos".

O tecnicismo da ministra, no entanto, não agradou a toda plateia. No meio da palestra muitos sindicalistas deixam o auditório para conversar nos corredores laterais. "Manda parar de dar água para ela que assim ela para logo", brincavam alguns deles. Após a palestra, um vídeo sobre o PAC foi apresentado. Durante a exibição o auditório ficou praticamente vazio.