Título: Crise atinge com força a Gerdau nos EUA
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 19/02/2009, Empresas, p. B7

A recessão atravessada pela economia americana atingiu com força os negócios do grupo siderúrgico Gerdau nos Estados Unidos e no Canadá, reduzindo drasticamente a demanda pelos seus produtos e inaugurando uma fase de grande instabilidade no processo de expansão internacional do grupo brasileiro.

A Gerdau ampliou sua presença no mercado americano com uma série de aquisições nos últimos anos. Isso permitiu que o grupo crescesse mais rapidamente que outras siderúrgicas brasileiras, mas tornou-o mais vulnerável diante da crise atual.

Os EUA e o Canadá foram responsáveis por um terço do faturamento do grupo Gerdau e um quarto dos seus lucros nos primeiros nove meses do ano passado. Os resultados do último trimestre serão divulgados hoje e devem refletir a desaceleração sofrida pela indústria americana desde o fim do ano, preveem analistas do mercado financeiro.

Procurada para discutir a situação do grupo nos EUA, a Gerdau preferiu não se manifestar. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, seus executivos só poderiam dar entrevistas após a divulgação do balanço de 2008.

As duas subsidiárias do grupo na América do Norte, a Gerdau Ameristeel e Gerdau Macsteel, anunciaram nos últimos meses o afastamento de cerca de 800 trabalhadores, o equivalente a um décimo da sua força de trabalho. Em janeiro, uma usina da Macsteel, em Michigan, suspendeu sua produção por tempo indeterminado.

Executivos do grupo disseram ao sindicato que representa os funcionários da Gerdau na América do Norte que não tem condições de prever quando será possível chamar de volta os trabalhadores afastados, num sinal da profundidade da crise que atingiu o setor e das incertezas que envolvem sua recuperação.

A siderurgia americana produz atualmente pouco mais de 1 milhão de toneladas de aço por semana, metade do que produzia há um ano, de acordo com o Instituto Americano do Ferro e do Aço, principal associação do setor. Apenas 45% da capacidade de produção existente nas usinas tem sido usada, o nível mais baixo registrado na indústria desde a década de 80.

As usinas estão sofrendo com a redução da demanda na construção civil e na indústria automobilística, que juntas absorvem mais da metade do aço feito nos EUA. Os estoques disponíveis em centros de distribuição de produtos siderúrgicos são suficientes para atender ao mercado americano por mais de três meses se a demanda continuar retraída como hoje.

Isso significa que vai demorar para que as usinas voltem a produzir em ritmo mais acelerado, e a situação poderá continuar difícil mesmo depois que as encomendas voltarem. Analistas do banco suíço UBS estimam que a demanda por produtos siderúrgicos nos EUA neste ano será 30% menor do que a observada no ano passado.

As siderúrgicas americanas tiveram resultados exuberantes no ano passado, mas todas apresentaram números ruins no último trimestre e preveem dificuldades nos próximos meses. Analistas do Deutsche Bank calculam que a produção das principais siderúrgicas americanas poderá diminuir 15% neste ano.

Mas as usinas da Gerdau poderão estar entre as primeiras a serem beneficiadas pela retomada da demanda quando os pedidos voltarem. O grupo tem 21 usinas nos EUA e no Canadá e produz aço em fornos elétricos que usam sucata como matéria-prima e podem ser reativados mais rapidamente do que os alto-fornos de siderúrgicas maiores. "Usinas menores como as da Gerdau provavelmente vão absorver boa parte da demanda nos estágios iniciais da retomada", diz John Packard, um analista que acompanha de perto a indústria. A Nucor, principal concorrente da Gerdau no mercado americano, também usa fornos elétricos em suas usinas.

Executivos da Gerdau Ameristeel tem apontado outra vantagem em conversas com analistas. Pouco endividada, a empresa acredita ter fôlego financeiro para enfrentar a turbulência. As dívidas contraídas com as aquisições mais recentes do grupo só começam a vencer em 2011, quando os economistas acreditam que a fase mais aguda da crise atual terá sido superada.

A Gerdau também poderá ser beneficiada pelo pacote de estímulo econômico proposto pelo presidente Barack Obama. O plano destina US$ 787 bilhões a cortes de impostos e investimentos com o objetivo de tirar a economia americana da recessão e reserva US$ 150 bilhões para pontes, estradas e outras obras públicas que precisarão de aço para sair do papel.

Barreiras protecionistas incorporadas ao pacote restringem o uso de aço importado nos projetos financiados pelo plano e as usinas americanas acreditam que ele poderá estimular bastante a demanda do setor. Mas vai levar tempo para executar esses projetos e a maior parte dos gastos só será realizada a partir de 2010, o que deve enfraquecer seu impacto imediato para empresas como a Gerdau.