Título: Dúvida sobre IPI segura produção nas montadoras
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 19/02/2009, Empresas, p. B7

A indústria automobilística prefere pagar o preço da falta de carros novos no mercado e segurar o ritmo de crescimento a ter de retomar a produção e ser obrigada a fazer novos cortes em abril. O setor teme voltar a operar na velocidade anterior a crise e ser surpreendido pela queda de demanda, que virá caso o governo não estenda o prazo de IPI reduzido.

Empresas que cortaram turnos não se arriscam agora a reativá-los. É o caso da Honda, que em janeiro passou a operar em dois turnos e deixou os cerca de 500 empregados da terceira turma fora da linha de montagem, em atividades de treinamento e reciclagem.

O gerente comercial da Honda, Alberto Pascumo, reconhece que o ritmo das vendas melhorou. Mas lembra que os volumes ainda estão bem menores do que cinco meses atrás. De fato, a média mensal estava em torno de 250 mil a 260 mil veículos e agora não chega a 200 mil. "Ainda não dá para se arrepender de ter reduzido o ritmo."

"Se o ano tivesse só os três primeiros meses seria o melhor dos mundos, mas é impossível prever como será abril", diz o diretor da TRW, umas das principais fornecedoras da indústria automobilística, Wilson Rocha. Ele se refere ao fim do IPI reduzido, marcado para 31 de março. A TRW fez demissões depois da crise. Rocha diz que a produção ainda está ajustada para um volume maior do que a média dos últimos meses, mesmo levando em conta a recente expansão do mercado interno.

O presidente da Cobreq, outro grande fornecedor, Feres Magul, diz que a demanda por autopeças na indústria melhorou em fevereiro e tudo indica que vai se manter ou ser ainda melhor em março. "Mas ainda não chegamos aos níveis de setembro", destaca. A Cobreq não renovou o contrato de trabalhadores contratados em regime temporário. Magul diz que por enquanto a empresa não está precisando de mais mão-de-obra.

Mas já começam a surgir iniciativas no sentido contrário. A Volkswagen, maior montadora do país, decidiu renovar os contratos por prazo determinado de 106 trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), que venciam neste mês. A empresa convocou os funcionários para também trabalhar os quatro sábados de fevereiro a título de horas extras.

O ritmo das vendas melhora a cada dia. Os concessionários sentem falta de alguns modelos, principalmente os mais caros. Segundo executivos do setor, com a queda de IPI mais forte nos populares, as montadoras se voltaram para a produção desse tipo de veículo, o que levou à falta das versões não populares.

O consumidor voltou a comprar carros porque o preço baixou. Além do IPI, as taxas de juros diminuíram em relação ao pico da crise, o que se reflete em prestações menores nos casos de financiamento. A média mensal dos juros para carros novos estava em 1,3% antes da crise, subiu para 2% com a falta de crédito e agora se acomodou em 1,6% . A prestação de um Space Fox, modelo da Volkswagen, que custava R$ 46 mil antes da crise e que agora sai por R$ 42,5 mil, ficou mais baixa, mesmo com uma taxa de juros maior do que antes da crise.

"Como o preço do carro vai aumentar entre 7% e 8% se o IPI voltar a subir, teremos correria nas lojas em março", afirma o gerente da Amazon, concessionária Volks, Marcos Leite.

A CSM Worldwide, consultoria que acompanha esse setor em todo o mundo, reviu ontem as suas previsões para cima para o mercado brasileiro de veículos. O novo cálculo indica a venda de 2,581 milhões de unidades em 2009, uma queda de 3% em relação a 2008, mas um avanço de mais ou menos 100 mil unidades em relação à previsão anterior.

A reação nas vendas de carros zero-quilômetro começou a ter efeito no mercado de usados. Os preços ainda estão de 15% a 30% menores do que eram antes da crise, o que leva muita gente a desistir da venda. Mas entre os compradores, o estímulo vem da queda nas taxas de juros e também da eterna paixão do brasileiro por automóveis, segundo Paulo Pacito, da Aldecar, uma loja de São Paulo. "Há alguns dias cheguei a vender para pessoas que perderam o emprego e decidiram investir o dinheiro da rescisão num carro". (Colaborou Cibelle Bouças)