Título: Lula libera US$ 15 milhões
Autor: Fleck, Isabel; Foreque, Flávia; Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2010, Mundo, p. 23

Presidente acerta cooperação com Barack Obama, propõe reunião de doadores e cobra mais empenho dos países desenvolvidos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou ontem a liberação de US$ 15 milhões para ajudar a reconstrução do Haiti, enviou para Porto Príncipe o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e conversou com o colega norte-americano, Barack Obama, para coordenar os esforços de ajuda ao país mais pobre das Américas depois do terremoto devastador. Lula recebeu o telefonema depois de um evento relativo à preparação para a Copa de 2014, e propôs a Obama que Brasil, Estados Unidos e as Nações Unidas promovam uma reunião com países doadores para acelerar o envio de dinheiro para o Haiti. ¿É um país que não tem recebido recursos com a rapidez que deveria¿, afirmou o presidente. Obama comunicou ao governante brasileiro que se reunirá hoje com o ex-presidente Bill Clinton, enviado especial da ONU para o Haiti. Também estava prevista uma conversa entre o chanceler Celso Amorim e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.

Amorim, que recebeu a imprensa à tarde no Itamaraty, ressaltou que a ajuda de US$ 15 milhões ¿é uma contribuição muito significativa para um país do tamanho do Brasil¿. A decisão foi tomada no início da manhã, na reunião de emergência que Lula manteve com o chanceler e os ministros da Defesa, da Casa Civil (Dilma Rousseff) e da Comunicação Social (Franklin Martins). Nelson Jobim embarcou em seguida para o Haiti, para verificar a situação após o terremoto e avaliar como o governo brasileiro pode contribuir no esforço de reconstrução. O avião da Força Aérea Brasileira (FAB), no qual viajaram também os comandantes da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, e do Exército, general Enzo Martins Pery, decolou da Base Aérea pouco antes das 12h30, rumo a Porto Príncipe.

A FAB anunciou que um avião C-130 Hércules partiria ainda na noite de ontem levando 13 toneladas de suprimentos ¿ água, açúcar, leite em pó, sardinha e fiambre. Outro avião deve decolar hoje do Rio de Janeiro, levando bombeiros(1), pessoal da defesa civil, cães farejadores, equipamentos e remédios, além de mais água e alimentos. No total, oito aeronaves de transporte foram colocadas à disposição para ajudar o Haiti.

No início da tarde, o Planalto divulgou nota em que o presidente se diz ¿profundamente consternado com a tragédia¿ em um país ¿ao qual nos sentimos vinculados fraternalmente em razão da presença da Força de Paz liderada pelo Brasil¿. Lula expressou ¿meu pesar e minha total solidariedade ao povo haitiano e à família das vítimas brasileiras, civis e militares, em especial à de Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa¿.

Antes de embarcar para Porto Príncipe, Jobim afirmou que uma das principais dificuldades será não o envio, mas a distribuição dos mantimentos doados, já que ruas e estradas estão cheias de escombros. ¿Vamos ver de que forma a Companhia de Engenharia da força de paz pode ajudar na desobstrução das vias¿, disse. Na comitiva seguiram ainda o embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, que estava em Brasília no dia da tragédia, o secretário executivo da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Rogério Sottili, e o senador Flávio Arns (PSDB-PR), sobrinho de Zilda Arns. O diretor do Departamento de Saúde Ambiental da Secretaria de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde, Guilherme Franco Neto, também integra o grupo. Ele fará o reconhecimento das necessidades de envio de remédios e profissionais de saúde.

Consternação Integrantes do governo e congressistas divulgaram durante o dia comunicados lamentando a tragédia no Haiti. Nelson Jobim prestou um ¿tributo especial aos militares brasileiros que tombaram no cumprimento da missão delegada, antes de tudo, pelo povo brasileiro: levar a solidariedade e o calor da nossa gente aos irmãos haitianos¿. No texto, o ministro da Defesa lembra que ¿ninguém (entre os militares) estava obrigado, mas movido pelo interesse no crescimento pessoal, trazido pelas novas experiências e, especialmente, pelo esforço solidário para tornar o mundo melhor e mais seguro para os seus semelhantes¿.

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado manifestou ¿profunda consternação¿ e ofereceu solidariedade à população do país atingido. ¿(A comissão) lastima a morte de 11 militares brasileiros que integravam a Força de Paz da Organização das Nações Unidas (Minustah), liderada por nosso país. São perdas irreparáveis e prestamos nossa solidariedade às famílias atingidas¿, diz a nota, assinada pelo presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Os políticos utilizaram também seus perfis na rede social Twitter. Tião Viana (PT-AC) disse ser ¿dolorosa a perda de vidas no Haiti¿, e Aloizio Mercadante (PT-SP) afirmou ter apresentado requerimento para que o Senado homenageie Zilda Arns e os militares brasileiros que servem no Haiti.

1 - DF na missão O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal vai enviar hoje ao Haiti 25 especialistas em resgate e situação de crise. Não é a primeira vez que a corporação atua em situações nas quais as forças locais são impotentes. Uma delas ocorreu em Roraima, há 109 anos, quando a guarnição foi essencial para acabar com um incêndio florestal que já durava quase um mês. Os bombeiros embarcarão às 10h, na Base Aérea de Brasília, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), para seguir viagem com homens vindos do Rio de Janeiro.

Lula libera US$ 15 milhões

Presidente acerta cooperação com Barack Obama, propõe reunião de doadores e cobra mais empenho dos países desenvolvidos

Isabel Fleck e Flávia Foreque Ricardo Allan

Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr O ministro da Defesa, Nelson Jobim, embarca para Porto Príncipe: preocupação com as dificuldades para fazer a ajuda brasileira chegar às vítimas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou ontem a liberação de US$ 15 milhões para ajudar a reconstrução do Haiti, enviou para Porto Príncipe o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e conversou com o colega norte-americano, Barack Obama, para coordenar os esforços de ajuda ao país mais pobre das Américas depois do terremoto devastador. Lula recebeu o telefonema depois de um evento relativo à preparação para a Copa de 2014, e propôs a Obama que Brasil, Estados Unidos e as Nações Unidas promovam uma reunião com países doadores para acelerar o envio de dinheiro para o Haiti. ¿É um país que não tem recebido recursos com a rapidez que deveria¿, afirmou o presidente. Obama comunicou ao governante brasileiro que se reunirá hoje com o ex-presidente Bill Clinton, enviado especial da ONU para o Haiti. Também estava prevista uma conversa entre o chanceler Celso Amorim e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.

Amorim, que recebeu a imprensa à tarde no Itamaraty, ressaltou que a ajuda de US$ 15 milhões ¿é uma contribuição muito significativa para um país do tamanho do Brasil¿. A decisão foi tomada no início da manhã, na reunião de emergência que Lula manteve com o chanceler e os ministros da Defesa, da Casa Civil (Dilma Rousseff) e da Comunicação Social (Franklin Martins). Nelson Jobim embarcou em seguida para o Haiti, para verificar a situação após o terremoto e avaliar como o governo brasileiro pode contribuir no esforço de reconstrução. O avião da Força Aérea Brasileira (FAB), no qual viajaram também os comandantes da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, e do Exército, general Enzo Martins Pery, decolou da Base Aérea pouco antes das 12h30, rumo a Porto Príncipe.

A FAB anunciou que um avião C-130 Hércules partiria ainda na noite de ontem levando 13 toneladas de suprimentos ¿ água, açúcar, leite em pó, sardinha e fiambre. Outro avião deve decolar hoje do Rio de Janeiro, levando bombeiros(1), pessoal da defesa civil, cães farejadores, equipamentos e remédios, além de mais água e alimentos. No total, oito aeronaves de transporte foram colocadas à disposição para ajudar o Haiti.

No início da tarde, o Planalto divulgou nota em que o presidente se diz ¿profundamente consternado com a tragédia¿ em um país ¿ao qual nos sentimos vinculados fraternalmente em razão da presença da Força de Paz liderada pelo Brasil¿. Lula expressou ¿meu pesar e minha total solidariedade ao povo haitiano e à família das vítimas brasileiras, civis e militares, em especial à de Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa¿.

Antes de embarcar para Porto Príncipe, Jobim afirmou que uma das principais dificuldades será não o envio, mas a distribuição dos mantimentos doados, já que ruas e estradas estão cheias de escombros. ¿Vamos ver de que forma a Companhia de Engenharia da força de paz pode ajudar na desobstrução das vias¿, disse. Na comitiva seguiram ainda o embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, que estava em Brasília no dia da tragédia, o secretário executivo da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Rogério Sottili, e o senador Flávio Arns (PSDB-PR), sobrinho de Zilda Arns. O diretor do Departamento de Saúde Ambiental da Secretaria de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde, Guilherme Franco Neto, também integra o grupo. Ele fará o reconhecimento das necessidades de envio de remédios e profissionais de saúde.

Consternação Integrantes do governo e congressistas divulgaram durante o dia comunicados lamentando a tragédia no Haiti. Nelson Jobim prestou um ¿tributo especial aos militares brasileiros que tombaram no cumprimento da missão delegada, antes de tudo, pelo povo brasileiro: levar a solidariedade e o calor da nossa gente aos irmãos haitianos¿. No texto, o ministro da Defesa lembra que ¿ninguém (entre os militares) estava obrigado, mas movido pelo interesse no crescimento pessoal, trazido pelas novas experiências e, especialmente, pelo esforço solidário para tornar o mundo melhor e mais seguro para os seus semelhantes¿.

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado manifestou ¿profunda consternação¿ e ofereceu solidariedade à população do país atingido. ¿(A comissão) lastima a morte de 11 militares brasileiros que integravam a Força de Paz da Organização das Nações Unidas (Minustah), liderada por nosso país. São perdas irreparáveis e prestamos nossa solidariedade às famílias atingidas¿, diz a nota, assinada pelo presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Os políticos utilizaram também seus perfis na rede social Twitter. Tião Viana (PT-AC) disse ser ¿dolorosa a perda de vidas no Haiti¿, e Aloizio Mercadante (PT-SP) afirmou ter apresentado requerimento para que o Senado homenageie Zilda Arns e os militares brasileiros que servem no Haiti.

1 - DF na missão O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal vai enviar hoje ao Haiti 25 especialistas em resgate e situação de crise. Não é a primeira vez que a corporação atua em situações nas quais as forças locais são impotentes. Uma delas ocorreu em Roraima, há 109 anos, quando a guarnição foi essencial para acabar com um incêndio florestal que já durava quase um mês. Os bombeiros embarcarão às 10h, na Base Aérea de Brasília, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), para seguir viagem com homens vindos do Rio de Janeiro.

(O Haiti) é um país que não tem recebido recursos com a rapidez que deveria¿

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil

Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores

Ali, ninguém estava obrigado, mas movido pelo esforço solidário para tornar o mundo melhor e mais seguro para os semelhantes¿

Nelson Jobim, ministro da Defesa

Operação coordenada

Ricardo Allan

O governo brasileiro articula com a Organização das Nações Unidas (ONU) e a administração dos Estados Unidos uma ação coordenada para socorrer os desabrigados no Haiti e auxiliar na reconstrução do país, devastado pelos terremotos anteontem. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, conversou longamente ontem com o secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. O chanceler brasileiro percebeu disposição de ambos e da comunidade internacional em geral em amparar os haitianos com o envio de ajuda humanitária. ¿Estamos em contato permanente com autoridades de diversos países para coordenar os esforços de auxílio ao Haiti. O que aconteceu agora deve reforçar a determinação do mundo em ajudar o país¿, disse. Para o ministro, a prioridade é resgatar os corpos, dar atendimento médico aos sobreviventes e prestar uma ¿atenção especial¿ na manutenção da ordem e da segurança.

Do ponto de vista do governo brasileiro, o mais importante seria reorganizar as forças civis e militares rapidamente para poder voltar a dar um tratamento de qualidade aos desabrigados haitianos. Amorim afirmou que o auxílio que os países já enviam ao Haiti às vezes não chega por causa das dificuldades de infraestrutura. O Itamaraty tem tentado fazer contato com autoridades haitianas, como o presidente René Préval e o primeiro-ministro Jean-Max Bellerive, mas as ligações não se completam. ¿Está tudo muito precário. Temos feito esforço para falar com as autoridades, mas não temos obtido sucesso. Às vezes, conseguimos falar com nosso pessoal lá por celular ou e-mail, outras não¿, reconheceu.

Segundo levantamento das forças no Haiti, existem cerca de 1.310 brasileiros no país, dos quais 1.260 são militares e 50, civis. O governo está entrando em contato com as organizações não governamentais (ONG) para levantar o número e a identidade das pessoas que estavam lá no momento dos terremotos. Por enquanto, o serviço telefônico do Itamaraty para auxílio de brasileiros no exterior está mais recolhendo dados sobre as pessoas que poderiam estar lá do que prestando informações a parentes e amigos. Até o meio da tarde, o Itamaraty contabilizava 353 ligações. O chanceler teve conhecimento de que um grupo de 12 ou 14 religiosas brasileiras passa bem, mas soube que Luiz Carlos da Costa, o segundo mais importante funcionário da ONU na missão civil no país, está desaparecido. Costa é o brasileiro mais graduado na estrutura das Nações Unidas. Embora a embaixada tenha rachado e esteja condenada, os três diplomatas e quatro funcionários que trabalhavam no prédio estão bem. ¿Não temos nem mesmo um lugar para receber os brasileiros desabrigados porque a nossa embaixada foi muito danificada e, para efeitos práticos, não existe mais¿, disse.

Apesar dos estragos, não deve haver retirada do contingente nacional no país. Amorim ressaltou a diferença entre a situação atual e a guerra entre Israel e o partido xiita libanês Hezbollah, que forçou o governo a organizar uma operação de resgate de brasileiros no Líbano em 2006. ¿Foi um terremoto. É terrível, mas não deve haver riscos continuados, como numa guerra¿, disse. Ele lamentou o fato de a destruição ter ocorrido num momento de recuperação institucional. ¿Temos um sentimento profundo pelo esforço que vinha sendo feito pela reconstrução do país. As coisas estavam melhorando bastante lá. Agora, a comunidade internacional deve renovar o compromisso.¿