Título: Em janeiro, acordos têm impacto restrito e 102 mil vagas fecham
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2009, Brasil, p. A5

Os acordos para redução de jornada e de salários firmados na indústria em janeiro foram insuficientes para evitar o pior resultado já verificado em janeiro pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) desde 1996. As demissões de trabalhadores com carteira assinada foram recorde e somaram 1,3 milhão, quase 102 mil a mais que o total de pessoas contratadas. Desde 1999, o cadastro de admissões e demissões não registrava saldo negativo em janeiro.

"O saldo é negativo, mas foi menos impactante que previam alguns economistas, não configura a catástrofe que alguns estavam anunciando", comentou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que previu para fevereiro um novo "resultado ruim" e a recuperação da geração de empregos em março. Embora o resultado de janeiro revele que o país vem perdendo empregos do setor formal da economia há três meses seguidos, Lupi preferiu considerar positivo o fato de que a perda de empregos em janeiro foi menor que o recorde de 655 mil postos fechados em dezembro.

Ao apresentar os dados negativos de janeiro, o ministério teve a preocupação de passar uma mensagem otimista, a ponto de enfatizar que parte do desemprego se deveu a "fatores sazonais" - ainda que, sazonalmente, janeiro seja um mês de geração de empregos. "Em março, o Brasil será a vanguarda do mundo, voltando a crescer no meio da crise e gerando emprego", previu Lupi, para quem os dados ruins do início do ano devem ser avaliados levando-se em conta que "atravessamos a pior crise mundial da história".

A queda de 0,32% no nível de emprego em janeiro deveu-se principalmente à forte redução na indústria de transformação (menos 0,75%, ou 55,1 mil postos de trabalho) e do comércio (menos 0,72%, equivalente a quase 51 mil vagas fechadas). As indústrias metalúrgicas, de material de transportes e de produtos alimentícios lideraram o corte de empregos. A queda foi parcialmente compensada pela interrupção do fechamento de postos de trabalho em setores como calçados e borracha, fumo e couros, que voltaram a expandir seus quadros de funcionários com carteira de trabalho assinada, após meses de quedas sucessivas.

Outra queda importante foi a do emprego na agricultura, setor que encolheu seu mercado de trabalho em 0,78% (12,1 mil postos), mas os dados revelam uma diversidade de situações no país. Enquanto contribuiu para a redução de vagas em São Paulo com a queda no setor de cana de açúcar, por exemplo, a produção agrícola foi uma das principais responsáveis pela elevação do nível de emprego no Sul (0,19%) e Centro-Oeste (0,31%).

A criação de empregos na lavoura permanente do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (7,2 mil) foi, porém, mais que compensada pela perda de postos de trabalho em São Paulo, no cultivo de laranja e em atividades de serviços relacionadas à agricultura (13,1 mil), por exemplo.

O comportamento do mercado de trabalho foi desigual, também, entre os setores, e o que mais se destacou do comportamento geral foi a construção civil, que contratou 11,3 mil trabalhadores a mais do que demitiu em janeiro, um crescimento de 0,59%. Em novembro e dezembro, o setor havia eliminado 105,2 mil postos de trabalho. O resultado do mês passado se assemelha (é um pouco inferior) ao de janeiro de 2007.

O setor de serviços teve ligeiro aumento de 0,002%, ou 2,5 mil novos empregos. O que mais aumentou foram os serviços de alojamento e alimentação (10,7 mil novos postos de trabalho), influenciados pelo período de férias, e os serviços médicos e odontológicos, com 6,5 mil novas vagas ocupadas.

Além da construção civil é do setor de serviços que o ministro do Trabalho espera uma das principais contribuições para a retomada da geração de empregos, a partir de março, especialmente com o fim das férias escolares e a habitual contratação de professores temporários em todo o país. Lupi cita, ainda, outros fatores para justificar seu otimismo: a retomada gradual do crédito para capital de giro das empresas, o aumento do salário mínimo ("que coloca bilhões a mais na economia, para o consumo"), os sinais de resistência na demanda interna e a redução de estoques nas empresas de automóveis, que deve levar à recontratação de trabalhadores.

"Eu disse às indústrias automotivas: vocês vão ter dois trabalhos, o de demitir e o de recontratar logo adiante", criticou Carlos Lupi. "Não estou dizendo que o resultado do Caged está bom, mas se comparar com a situação que estamos vivendo, o auge da crise, com 102 mil demissões em janeiro, é um negativo que reverte a crise."

Apesar do otimismo, o ministro não quis manter sua previsão de geração de 1,5 milhão de empregos neste ano, argumentando que será necessário esperar os dados de março para se ter uma avaliação do comportamento do mercado de trabalho em 2009. Ele comemorou o fato de que o número de pedidos de seguro-desemprego em janeiro, 597,4 mil ter ficado abaixo do de janeiro de 2007, 599,6 mil. Garantiu, porém, que o segundo semestre será de recuperação da produção e do emprego no país.

"Já temos vários setores recomeçando a contratar", diz ele. "Há oito Estados da federação reagindo, e quatro setores da economia, como construção e serviços, com resultado positivo", listou Lupi. A queda de empregos foi puxada pelos resultados em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, responsáveis por 80% do total das demissões.