Título: Economia segue piorando e Japão terá contração inédita
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Fonte: Valor Econômico, 20/02/2009, Especial, p. A16
Depois de ter registrado a maior contração de sua economia em quase 35 anos - e a maior entre os países industrializados na atual crise- o Japão advertiu ontem que sua as perspectivas continuam se agravando.
"A economia está piorando rapidamente", informou o governo em um relatório divulgado ontem sobre a situação do país em fevereiro. O governo reduziu sua avaliação sobre a economia. As condições atuais são classificadas como "graves".
Esse foi o quinto mês seguido em que Tóquio rebaixa sua avaliação. Desde junho de 2001, o governo não reduzia seus prognósticos por um período tão longo.
A segunda maior economia do mundo encolheu no último trimestre ao ritmo mais intenso desde o choque de petróleo de 1974. Economistas preveem que o Japão terá uma retração inédita no período entre abril de 2009 e abril de 2010 (o ano fiscal 2009). O ministro de Política Econômica e Fiscal, Kaoru Yosano, disse na quarta-feira que o Japão corre o risco de "se despedaçar".
A estimativa do instituto de pesquisas Dai-Ichi Life é que a economia sofrerá uma retração de 4,5% no ano fiscal de 2009. Sua estimativa anterior era de uma queda bem menor, de 2,7%.
Ontem, o Banco do Japão (banco central do país) manteve a taxa de juros em 0,1%, como previsto, e ampliou uma série de medidas para aumentar a liquidez. A principal delas, foi o anúncio de compra de 1 trilhão de ienes (cerca de US$ 10,7 bilhões) de títulos corporativos para ajudar as empresas a enfrentarem o aperto mundial de crédito. Os anúncios tiveram pouco impacto no mercado de ações japonês.
Além de rebaixar sua avaliação da economia, Tóquio também reduziu sua avaliação sobre importações e gastos do consumidor, num momento de queda nas exportações e na produção.
Grandes empresas exportadoras japonesas, como a Toyota e a Sony, estão demitindo milhares de funcionários por causa da redução sem precedentes da demanda internacional.
"A tendência de contração nos gastos dos consumidores está se tornando mais clara", avalia Fumihira Nishizaki, diretor de análises macro-econômicas do governo. Ao apertarem os gastos, os consumidores estão levando as empresas a reavaliar seus planos de negócios. A maior empresa do ramo de supermercados do país, a Aeon, vai congelar ou adiar a abertura de sete grandes shopping centers, segundo informou ontem o jornal "Nikkei".
Ainda ontem o governo japonês também divulgou dados que apontam que a demanda interna por bens e serviços teve a maior queda dos últimos sete anos.
O hiato do produto, indicador que mede o limite para a economia crescer sem acelerar a inflação, caiu 4,3% no quaro trimestre. O aumento do hiato do produto sinaliza que a economia pode estar voltando ao quadro de deflação que afetou a economia por quase uma década até 2005.
Na avaliação do Banco do Japão, os preços ao consumidor começarão a cair nos próximos meses. "A economia japonesa parece estar mergulhando novamente numa deflação", afirmou Mari Iwashita, economista-chefe para mercados do Daiwa Securities SMBC, em Tóquio.
"A queda dos preços vai provocar uma redução dos lucros, contaminando o mercado de trabalho e os salários e agravando a recessão."