Título: O mundo desperta e envia donativos
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2010, Mundo, p. 25

Banco Mundial anuncia ajuda de US$ 100 milhões. Aviões e navios partem das Américas e da Europa com mantimentos, remédios e equipes de resgate

Os olhos dos líderes mundiais se voltaram ontem para o país mais pobre da América Latina, abalado na véspera por um terremoto como não se via há 200 anos. Chefes de Estado e de governo enviaram mensagens de condolências ao presidente do Haiti, René Préval, que as recebeu na residência oficial ¿ o palácio de governo foi dividido ao meio pelo terremoto. Também começam a ser enviados donativos e ajuda financeira, incluindo os US$ 15 milhões anunciados pelo governo brasileiro, montante superior aos US$ 10 milhões liberados pelas Nações Unidas. No início da noite, o Banco Mundial confirmou a liberação de US$ 100 milhões, que se somam a recursos oferecidos pela União Europeia (US$ 4,4 milhões), por governos de europeus e por várias seções nacionais da Cruz Vermelha.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, um dos primeiros chefes de Estado a pronunciar-se sobre a tragédia, ainda na noite de terça-feira, determinou à sua administração que ¿aja de maneira rápida, coordenada e eficiente¿ para salvar vidas. ¿O povo do Haiti terá total apoio dos EUA no esforço de emergência para resgatar pessoas presas nos escombros e oferecer a ajuda humanitária ¿ alimentos, água, remédios ¿ de que os haitianos precisarão nos próximos dias¿, disse Obama. A Guarda Costeira americana enviou quatro navios e um avião de carga ao Haiti com ajuda humanitária. A Marinha anunciou a partida do cruzador USS Vincennes com destino ao Haiti.

Em Paris, o chanceler Bernard Kouchner expressou a ¿total solidariedade¿ do governo francês e destacou que já estavam trabalhando ¿para mobilizar e enviar sem demoras ajuda urgente para Porto Príncipe¿. O Reino Unido enviará uma equipe de bombeiros para participar no salvamento e técnicos para assessorar a reconstrução. ¿Estamos prontos para fornecer toda a ajuda humanitária que seja pedida¿, ressaltou o premiê Gordon Brown. O governo espanhol prometeu US$ 4,4 milhões de ajuda (o mesmo valor oferecido pela UE), além de três aviões com 100 toneladas de barracas, cobertores e itens de cozinha.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, prometeu enviar uma equipe com 50 pessoas, acompanhada de alimentos e equipamento médico. O Peru, que tem 205 soldados na missão da ONU, comandada pelo Brasil, também se comprometeu com os esforços de socorro. O papa Bento XVI pediu à extensa rede de caridade da Igreja Católica que se mobilize prontamente para ajudar as vítimas do terremoto.

Organizações não governamentais também já planejam enviar reforços. Equipes de socorro da Cruz Vermelha sairão de Genebra para ajudar os hospitais a lidar com o elevado número de vítimas. Uma equipe da ONG espanhola Bombeiros Unidos sem Fronteiras viajou ontem ao Haiti para colaborar nas tarefas de resgate nos escombros. O departamento de bombeiros de Los Angeles decidiu enviar 72 funcionários. ¿Eles levarão 48 mil libras de suprimentos, ferramentas e materiais de construção¿, disse o chefe da corporação, Frederic Stowers.

Deu No

THE NEW YORK TIMES ¿Um país sem sorte¿ O principal diário norte-americano, um dos mais influentes do mundo, ofereceu ampla cobertura em sua edição online, sob a manchete que destacava a estimativa de ¿milhares de mortos¿ na catástrofe. Em uma seção que reúne depoimentos e comentários postados na rede por haitianos, o NYT destaca trechos de um ensaio de autoria do haitiano Joel Dreyfuss, que começa lamentando que o seu seja ¿um desses países que simplesmente não têm sorte¿. O texto lembra as décadas de tiranias, golpes, eleições fraudadas e violência, além da criminalidade e do flagelo anual dos furacões. ¿O Haiti tem um passado glorioso, um presente brutal e um futuro sombrio¿, resume o ensaísta.

LE MONDE ¿O mais longo dos minutos¿ Depoimentos de haitianos e franceses residentes no país foram também um destaque na edição online do prestigiado diário parisiense, que não tem nesse tipo de cobertura atualizada permanentemente o seu forte. ¿Nunca na vida um minuto tinha me parecido tão longo¿, descreveu, ainda abalado, o contador Francis Hilaire, de 67 anos, morador de Pétionville, nos arredores da capital. Sem televisão, ele acompanhava o desenrolar da situação pelo computador: ¿Pelo menos a internet ainda funciona¿.

CLARÍN Atenção às vítimas Em sua página na internet, o diário portenho trazia como manchete a estimativa sombria sobre o número de vítimas do terremoto. A cobertura noticiava também a morte de um soldado argentino da missão da ONU e relatava o frenético trabalho no hospital militar que o contingente do país opera na capital, Porto Príncipe. ¿O hospital argentino continua funcionando e já atendeu 800 pessoas, a maioria mulheres e crianças¿, informa a reportagem. ¿Muitas crianças foram deixadas no hospital pelos pais, que voltaram para defender a casa de saqueadores.¿

SPIEGELONLINE A força de um meteorito A principal revista semanal alemã também cobre a tragédia no Haiti como assunto dominante em sua edição online, sob manchete que ressalta a dimensão da catástrofe em termos de vidas perdidas. Uma das reportagens compara a potência do terremoto de terça-feira à noite ao impacto ¿de um meteorito de 100m de diâmetro¿ que se chocasse com o planeta. De acordo com o texto, geólogos vinham alertando que o Haiti corria o risco de sofrer um abalo sísmico de grandes proporções, por estar próximo à linha de falha entre duas placas tectônicas.