Título: Líder da oposição recua de denúncia
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2005, Política, p. A13
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), recuou ontem de apresentar denúncia envolvendo as relações entre os fundos de pensão e o governo. Disse que a faria na próxima semana e, em seu lugar, propôs que todos os 81 senadores assinem os dois requerimentos de criação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) que tramitam na Casa. Um requerimento é para a investigação das denúncias de corrupção nas privatizações ocorridas durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O outro é para apurar denúncias de corrupção na Casa Civil, que envolveriam Waldomiro Diniz, ex-assessor do ministro da Casa Civil, José Dirceu. A proposta do líder tucano retoma a estratégia da oposição de pressionar o governo com CPIs. É uma resposta também às acusações contra o governo anterior feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em discurso proferido na semana passada. A movimentação de Virgílio causou grande embaraço ontem no plenário do Senado. Até o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez um apelo para que governistas e oposição baixassem o tom do conflito. "O momento não é de exarcebar eventuais diferenças políticas. O momento de exarcebar as diferenças políticas, e isso é saudável, é o momento eleitoral", disse, durante a entrevista sobre o crescimento econômico. Após a apresentação da proposta do líder tucano, o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) foi à tribuna defender o governo. Ele disse que não haveria a necessidade de investigação, pois, ele mesmo já havia sido abordado por um empreiteiro para retirar sua assinatura do pedido de uma CPI, mediante suborno. Imediatamente, senadores da oposição afirmaram que esse fato reforça a necessidade de instalação das duas CPIs. Eles querem levar Maguito Vilela à Comissão de Ética do Senado, para que explique o episódio ao qual se referiu ontem. O senador José Jorge (PFL-PE) observou que denúncia tão grave deveria ter sido feita no dia em que o fato ocorreu e não três anos depois. Maguito se disse disposto a confirmar a denúncia e apontar os acusados à Comissão de Ética da Casa. O senador goiano disse não se lembrar em qual pedido de CPI o fato ocorreu. Virgílio disse que os senadores que não assinarem os dois pedidos de CPI colocarão a dignidade do Senado à prova. "Vamos parar de 'denuncismo' e pressão e analisar duas graves denúncias de corrupção, uma de cada governo", defendeu o senador. O gesto do líder do PSDB torna mais difícil o entendimento entre governo e oposição, para abafar a polêmica surgida após as declarações feitas quinta-feira pelo presidente Lula. Até o momento, apenas 12 senadores assinaram cada um dos dois pedidos de criação de CPI. São necessários 27 assinaturas para que uma comissão de inquérito seja instalada no Senado.