Título: Aldo cobra definição e expõe divisão no PT
Autor: Raymundo Costa Maria Lúcia Delgado e Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2005, Política, p. A13

Após conversar na véspera com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, decidiu pressionar o PT a tornar público o objetivo da sigla de retomar o controle da articulação política do governo. Numa atitude que surpreendeu e deixou perplexos seus adversários petistas, Aldo telefonou ontem para o presidente nacional do PT, José Genoino, e pediu que o partido diga de forma transparente o que deseja. O ministro disse que se o PT considera o cargo tão fundamental, ele não criaria obstáculos para sair. No entanto, não queria mais críticas veladas do PT, e sim um pronunciamento aberto, e vindo "do primeiro escalão do partido". A definição cobrada por Aldo não deverá passar da próxima semana. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) afirmou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar no princípio da próxima semana os novos nomes que passarão a integrar o governo. "Eu, Renan (Calheiros) e (José) Sarney vamos estar com o presidente na próxima segunda feira", disse Mercadante. Depois desse encontro, segundo o senador, o presidente anunciaria as mudancas no seu gabinete. A declaração foi feita em Montevidéu, onde Mercadante integrou a delegação brasileira presente à posse do presidente uruguaio, Tabaré Vázquez. Mercadante é um dos petistas que julga importante a permanência de Aldo no ministério. Na véspera da conversa com Genoino, Aldo tocou no assunto com o próprio Lula. Disse ao presidente que não seria empecilho, caso o presidente desejasse devolver a coordenação política ao PT. Lula pediu para o ministro continuar trabalhando. Ontem, depois que Aldo conversou com Genoino, Lula telefonou de Montevidéu para o ministro e manteve o tom da conversa da véspera. Genoino disse a Aldo que o PT não reivindica a coordenação política. A reação dura de Aldo, um político de hábitos tranqüilos e discretos, foi um gesto de cálculo político. É amplamente majoritário no PT o sentimento de que o partido deve retomar o controle da ação política do Planalto, mas há divisão sobre quem deve ocupar o cargo. O nome havido como natural é o do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, que tem o apoio dos líderes, mas sofre a resistência dos que estão à margem do trabalho do grupo na direção da Câmara. Aldo conta com o apoio ainda do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e dos ministros das Comunicações, Eunício Oliveira, da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, que é do PSB. Todos julgam que Aldo, por não ser do PT, sintetiza o projeto de coalizão do governo Lula e aponta para a manutenção de uma ampla aliança na sucessão de 2006. O que teria superado o limite da paciência de Aldo Rebelo, de acordo com aliados próximos ao ministro, foram as declarações recentes do secretário-nacional do PT, Sílvio Pereira, na revista "IstoÉ". "Está na hora de mudar a articulação política. Estamos embaixo do telhado e está vazando água para tudo que é lado", disse o petista. Silvinho, como é mais conhecido, verbalizou o que a corrente majoritária do PT diz em reserva, principalmente depois da derrota do partido na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Aldo Rebelo é admirado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tem uma concepção política bastante distinta de segmentos petistas. Aos políticos com os quais têm trânsito, o ministro sempre reitera que a tarefa de manter a base de sustentação coesa é trabalhosa, pois trata-se de 10 partidos com diferentes ideologias. O PT, nesse contexto, só representa 15% da base. Aldo costuma comparar sua missão com uma luta de boxe: se baixar a guarda, vai a nocaute. "O PT quer que todos os outros partidos dêem sustentação ao Lula e ao projeto federal de poder, e, além disso, aos projetos estaduais petistas. Afinal de contas, qual é a função do PT? Sustentar Lula ou disputar com os aliados de Lula?", indaga um parlamentar, próximo ao ministro. Essa lógica petista pode criar problemas para Lula em 2006. Os aliados de Aldo estão cientes de que o PT quer a articulação política para viabilizar projetos de poder nos Estados e municípios, ou seja, em casos de embate com aliados dar prioridade ao candidato do PT. Genoino, refletindo uma posição do próprio Lula, tem admitido a possibilidade de o PT lançar um número mínimo de candidatos nos Estados em 2006, para compor a reeleição com os outros partidos. O maior aliado do ministro entre os aliados é o PMDB, mas o partido se acha irremediavelmente rachado. Renan controla a bancada do Senado, mas na Câmara o principal aliado do ministro, o deputado José Borba (PR), foi apeado da liderança por outro deputado, Saraiva Felipe (MG), mais ligado à oposição. Felipe, no entanto, já se articula com o grupo aliado do Planalto, e de Aldo Rebelo, para se consolidar de uma vez por todas no cargo.