Título: CPFL planeja investir pesado em geração
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2009, Empresas, p. B5
O presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Júnior, afirma que, mesmo o grupo Camargo Corrêa assumindo maioria no controle, a empresa vai manter sua plataforma de crescimento no que sabe fazer melhor: distribuir energia. Mas os planos de investimentos que estão em sua carteira mostram que as ambições vão muito além e estão em sintonia com os objetivos de uma grande construtora: ganhar a concessão para construir e operar grandes hidrelétricas. Jefferson Dias/Valor
O presidente da CPFL, Wilson Ferreira Júnior, afirma que a empresa terá de disputar Belo Monte, que é a maior usina hidrelétrica a ser leiloada pelo governo
Só para este ano são três grandes projetos em andamento na carteira da CPFL. A empresa está se preparando fortemente para levar a concessão da usina de Belo Monte, com capacidade de 11 mil megawatts e que ficará no meio da Amazônia paraense. E o discurso do presidente mostra que a empresa não trabalha com a possibilidade de perder essa disputa. "Temos que estar em Belo Monte", diz Ferreira. Além disso, a CPFL prepara o projeto de duas usinas hidrelétricas localizadas no Sul, no total de 1.200 megawatts, para os leilões de energia nova que acontecem no segundo semestre.
Levar Belo Monte parece ser dentro da companhia uma questão prioritária. Cinco engenheiros estão dedicados exclusivamente em estudar a usina desde outubro do ano passado. O aprendizado de se antecipar aos leilões veio em 2007, com a disputa em torno da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira. A empresa começou a se preparar apenas dois meses antes do leilão e o consórcio formado pela CPFL não foi páreo para o vencedor, liderado pela Odebrecht. "Mas, mesmo com pouco tempo de preparo, demos o segundo melhor lance", diz Ferreira, sinalizando que não deixará Belo Monte escapar. A empresa não deu lances na usina de Jirau, que acabou sendo vencida pelo consórcio liderado pela Suez e que tem entre seus sócios a Camargo Corrêa.
Desde a última sexta-feira, a construtora passou a ser oficialmente a sócia majoritária da CPFL por meio da VBC Energia, que detém 28% das suas ações. A Votorantim, que fazia parte da sociedade na VBC, saiu definitivamente do negócio ao vender sua participação à Camargo por mais de R$ 2,5 bilhões. É um negócio que vai render outros negócios à Camargo.
As principais usinas hidrelétricas operadas ou em construção pela CPFL foram construídas pela Camargo. Ferreira diz que a construtora não tem direito de preferência nas obras e participa de uma disputa em pé de igualdade com outros concorrentes. Chega a citar que algumas pequenas centrais hidrelétricas (PCH) da empresa não são erguidas pela Camargo. Mas o mercado todo sabe que o negócio da Camargo são as grandes obras.
Provocado sobre a estranheza que causaria se a CPFL contratasse a Odebrecht para alguma grande obra, Ferreira rebate astutamente: "Se tiver a melhor proposta". As melhores propostas para a CPFL, entretanto, têm vindo impreterivelmente da Camargo. A construtora recém concluiu as obras da usina 14 de Julho - que será em breve inaugurada, com capacidade de 100 MW - e constrói Foz de Chapecó, com mais de 850 MW.
Em nenhum destes grandes projetos a CPFL está sozinha, sempre busca parceiros para diluir os riscos de se construir uma hidrelétrica e não será diferente em Belo Monte. Mas Ferreira diz que a CPFL estará no grupo de controle seja qual for o consórcio que faça parte para disputar Belo Monte.
Os planos em geração, entretanto, não se restringem às usinas hidrelétricas. Um dos objetivos da companhia é também crescer na geração de energia alternativa, principalmente em usinas movidas a biomassa. "Vamos ser os maiores nisso", diz Ferreira. "Já somos os maiores comercializadores de energia proveniente dessas usinas". A empresa, por enquanto, tem um único projeto em andamento, no qual investiu R$ 100 milhões numa parceria firmada com a usina de açúcar Baldin. O empreendimento não envolve mais do que 50 MW, enquanto a CPFL está de olho em projetos que juntos somam cerca de 500 MW. A elétrica ainda continuará aplicando recursos em pequenas centrais hidrelétricas e começa a estudar projetos para geração de energia eólica.
Do que já tem em carteira, tanto de geração como de expansão e manutenção de sua rede de distribuição, a empresa vai investir cerca de R$ 1,2 bilhão em 2009. O objetivo é que esse valor pelo menos se mantenha nos próximos anos. A maior parte dos recursos previstos no plano de investimento deste ano será aplicado na atividade de distribuição, que absorverá R$ 738 milhões.
Depois de passar alguns meses como alvo de aquisição, a companhia quer voltar a buscar ativos de distribuição para comprar. Ferreira diz que a CPFL é "expert" em comprar esse tipo de empresa. Cita dois exemplos: a Rio Grande Energia e a Jaguariúna. Em 2009, termina o segundo ciclo de revisão tarifária das distribuidoras, em que a Aneel faz uma análise completa de cada uma e revisa as tarifas. Neste processo, o executivo acredita que será aberto espaço para uma forte consolidação do setor e a CPFL continuará compradora, segundo assegura seu presidente.