Título: Bernanke acalma os temores de estatização
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2009, Finanças, p. C1

Estamos comprometidos em assegurar a viabilidade de todas as mais importantes instituições financeiras", disse Bernanke ao apresentar o relatório monetário bianual do Fed ao Congresso. "Felizmente, esse aspecto não é abordado (como uma possibilidade)."

Bernanke disse que, "neste momento, nenhuma das grandes instituições" está sujeita ao tipo de intervenção regulatória usada para socorrer bancos à beira de uma falência. Indagado pelo senador Bob Corker se importantes bancos serão sujeitos a alguma intervenção depois que forem aplicados os "testes de stress", o presidente do Fed disse: "Não, não creio".

Bernanke disse que os testes visam indicar o montante de capital adicional que um banco poderia necessitar para continuar emprestando em meio a uma recessão mais profunda do que esperada. Nesses casos, o governo proveria esse capital na forma de títulos que seriam convertidos em ações, conforme necessário, para fortalecer o capital bancário. As autoridades vão procurar avaliar prováveis prejuízos na carteira de empréstimos dos bancos num período de dois anos, em vez de trabalhar no horizonte normal de um ano.

Bernanke advertiu que a "severa" recessão americana poderá se arrastar até 2010, a menos que o governo tenha êxito em estabilizar o sistema bancário e os mercados financeiros com ações vigorosas. Nesse caso, poderia terminar no final deste ano. Novos dados divulgados ontem revelaram que a confiança do consumidor americano mergulhou para um novo mínimo recorde em fevereiro, ao passo que a taxa de declínio nos preços das moradias acelerou em dezembro.

Em contrapartida, o Fed agiu no sentido de reprimir pagamentos de dividendos excessivos e recompras de ações e outros títulos por bancos debilitados. A divisão de supervisão do banco central dos EUA determinou que os bancos a consultem antes de pôr em prática quaisquer decisões nesse sentido que "possam criar preocupações com a segurança e a confiabilidade" - inclusive "declarar e pagar dividendos que excedam lucros no período pertinente aos dos dividendos sendo pagos".

Bernanke afirmou que as autoridades analisarão as necessidades de capital dos 19 maiores bancos americanos, "tanto sob uma ótica de previsão consensual em torno de onde acreditamos que a economia provavelmente está, com base em previsões do setor privado, como de uma alternativa pior". O presidente do Fed exortou o Congresso a assumir como prioridade número um o saneamento dos problemas bancários. "Se há uma mensagem que eu gostaria de deixar aqui, é a de que, para termos uma recuperação vigorosa, esta terá de acontecer em cima de uma estabilização do sistema financeiro".

As ações nas bolsas americanas reagiram positivamente às declarações de Bernanke e apresentaram recuperação ontem, após as fortes quedas na segunda-feira. Na Europa e na Ásia, porém, as bolsas voltaram a cair em meio a preocupações de que a recessão mundial esteja se aprofundando.

O depoimento de Bernanke no Congresso estimulou uma rodada de caça a pechinchas nas bolsas americanas. O índice S&P 500, da Bolsa de Nova York, teve alta de 4,01%. Já na Europa, o índice FTSE Eurofirst 300 caiu 1,4%, para um novo mínimo em seis anos. A média Nikkei 225 em Tóquio caiu 1,5%, muito próximo ao menor patamar em 26 anos.

Nos mercados cambiais, o dólar subiu para um pico em três meses em relação ao iene. Os investidores continuaram a questionar o "status" de refúgio seguro da moeda japonesa.

No terreno das commodities, o ouro recuou do nível de US$ 1 mil por onça rompido na sexta-feira, ao passo que o preço do petróleo encontrou sustentação devido a comentários de que a Opep deverá concordar em realizar mais cortes de produção.

As altas nas bolsas aconteceram apesar de novos dados mostrando que a confiança do consumidor americano mergulhou para outro mínimo recorde em fevereiro e que o mercado habitacional continua trôpego.

Bernanke deu aos investidores alguma confiança, ao dizer à Comissão do Senado para o setor bancário, em comentários preparados com antecedência, que a recessão poderá ter fim neste ano.