Título: CSN propõe dividendos recordes de R$ 2,3 bilhões
Autor: Ivo Ribeiro e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2005, Empresas &, p. B3

O lucro líquido da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) em 2004 foi o melhor de sua história em moeda brasileira - quase R$ 2 bilhões. Mas a proposta de pagamento de dividendos aos acionistas relativo ao resultado do ano passado não fica nem um pouco atrás. A direção da siderúrgica propôs remuneração de R$ 2,3 bilhões, incluindo parte paga na forma de juros sobre o capital e R$ 35 milhões de antecipação aprovados em junho. O valor, que surpreendeu o mercado de capitais, é o triplo do pago no ano anterior - R$ 717 milhões. O dividendo referente ao exercício de 2003 correspondeu a cerca de 70% do lucro do ano, de R$ 1,03 bilhão, segundo informações no balanço da CSN divulgado ontem. A distribuição mínima de dividendos que a siderúrgica, maior fabricante isolada de aços planos do país, teria de fazer era R$ 575 milhões para atender à legislação. Porém, decidiu acrescentar a esse valor R$ 1,452 bilhões. "O mercado esperava R$ 1 bilhão. Sem dúvida, foi um dividendo bastante alto", disse o analista Marcelo Aguiar, do Merrill Lynch. Até agora, o maior valor distribuído aos acionistas - o grupo Vicunha fica com 46,5% do valor, correspondente à sua participação no capital da siderúrgica - tinha sido de R$ 976 milhões, referente ao exercício de 2001. O montante incluiu pagamento extraordinário por conta da venda da participação da CSN na Vale do Rio Doce, efetivada em março daquele ano. Otávio Lazcano, diretor financeiro da CSN, disse durante conferência com a imprensa ontem para explicar o resultado de 2004, que "o pagamento de dividendos tem seguido a linha dos anos anteriores". Ele argumentou que a empresa tem uma geração de caixa forte, prazo de pagamento da dívida no longo prazo alongado para além de 8 anos e livre acesso a linhas de crédito nos bancos. "Temos conforto na posição financeira da empresa", ressaltou. Para analistas, a farta distribuição de dividendos está relacionada ao acordo, anunciado na segunda, segundo o qual a família Steinbruch comprará a participação dos seus sócios no grupo Vicunha, os Rabinovich. "Deve ter influência da negociação entre as duas famílias", disse Aguiar. Para Fábio Zagatti, do HSBC, tudo indica que o que motivou o pagamento de dividendos tão elevados foi a necessidade da família Steinbruch fazer caixa para pagar pela aquisição da participação dos Rabinovich. "A política de dividendos da CSN sempre esteve muito relacionada à necessidade da Vicunha de pagar suas dívidas", observou. Os dois analistas ressaltaram, no entanto, que a generosa distribuição de lucros não beneficia apenas os controladores. "Todos os investidores receberão também", disse Zagatti. Segundo seus cálculos, serão pagos R$ 8,30 por ação. De acordo com Aguiar, a CSN está com uma alavancagem muito baixa, o que não é eficiente. A distribuição de lucros reduzirá o caixa da empresa, que estava em R$ 3,7 bilhões no fim de 2004. "A distribuição de dividendos não reduzirá o potencial de crescimento da empresa", disse o analista. O balanço de 2004 mostra que a relação dívida líquida caiu, desde o ano 2000, de 2,9 vezes o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) para 1,0 vez no ano passado. Entretanto, relação do endividamento líquido sobre o patrimônio líquido, que havia caído de 99,5%, em 2002, para 66,2% em 2003, voltou a subir. Fechou o ano passado em 70,7%. Uma melhor análise dos dados do balanço mostra que o lucro aumentou (mais de 90%) sobre o ano anterior, a dívida de curto prazo caiu pela metade, mas a remuneração proposta foi de quase metade do valor do lajida, que alcançou R$ 4,79 bilhões. Em 2003, os dividendos pagos representaram quase 24% dos R$ 3,003 bilhões de resultado operacional. O resultado obtido pela CSN em 2004, disse Lauro Resende, diretor de investimentos, teve influência da conjuntura internacional de demanda crescente do aço, que se mantém firme em 2005, aliado a um cenário de forte alta dos preços 50% a 80%. Tanto que, ressaltou Luis Fernando Martinez, diretor comercial, a empresa "não tem previsão de aumentos dos preços no mercado interno até junho".