Título: Sob pressão, Rodrigues anuncia pacote de apoio
Autor: Mauro Zanatta e Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2005, Agronegócios, p. B10
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anunciará hoje, em Rio Verde (GO), a prorrogação de R$ 550 milhões em financiamentos de investimentos concedidos pelo Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) na linha pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A decisão, tomada ontem pelo Conselho Deliberativo do FCO, rola para o fim dos contratos as dívidas das parcelas com vencimento este ano. O Condel também autorizou o Banco do Brasil a renegociar cerca de R$ 500 milhões - recursos do FAT - em empréstimos de comercialização para produtores de soja, arroz, milho e algodão, após análise caso a caso. Os conselheiros levaram em conta a redução na capacidade de pagamento dos produtores causada pela quebra da safra, disparada nos custos de produção e a forte queda nos preços. "É o primeiro gesto concreto. Esperamos mais", diz Homero Pereira, presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato). Hoje, governadores de cinco Estados farão uma reunião conjunta com Rodrigues e os presidentes das federações de agricultura para aumentar a pressão por novas medidas. Confirmaram presença Marconi Perillo (GO), Blairo Maggi (MT), Egon Krakecke (MS), Germano Rigotto (RS) e Marcelo Miranda (TO). Na reunião, as federações entregarão ao ministro documento pedindo a prorrogação do crédito agrícola e medidas para facilitar a comercialização e estocagem. Rodrigues também deve anunciar um reforço próximo de R$ 1,5 bilhão para a comercialização da atual safra. Esse dinheiro servirá para reduzir as taxas de juros cobradas pelos bancos nessas linhas. O pedido inicial chegava a R$ 3,5 bilhões. Além disso, Rodrigues pediu ao presidente Lula e a seu colega Antonio Palocci (Fazenda) mais R$ 1,55 bilhão do Tesouro Nacional para equalizar os juros dos empréstimos de comercialização. O Ministério também tenta uma solução para quase R$ 2 bilhões em dívidas que vencem este ano com os programas Finame e Moderfrota, do BNDES. Ontem, em São Paulo, Ivan Wedekin, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, confirmou a liberação de recursos adicionais pela Fazenda, mas não divulgou o valor. Ele disse que as medidas abrangem três linhas de ação: alongamento de dívidas, crédito para comercialização e estocagem e aumento de recursos orçamentários para leilões de PEP, aquisições do governo federal (AGF) e contratos de opção, principalmente privados. Também em São Paulo, Ricardo Conceição, vice-presidente de agronegócios do Banco do Brasil, disse que a instituição analisa os casos de produtores que tiveram perdas com a estiagem e que para esses casos "a resposta será prorrogar a dívida". No Rio Grande do Sul, de 100 mil produtores que têm seguro (Proagro), 35 mil já informaram perdas ao banco. Pressionado por todos os lados - agricultores do Centro-Oeste têm ido às ruas para pedir a rolagem de dívidas - , o ministro tenta convencer o presidente Lula e o ministro Palocci de que parte do setor vive a iminência de uma grave crise. Para ele, o governo federal teria que se antecipar aos efeitos da perda de renda do setor para evitar a forte pressão política por uma renegociação generalizada das dívidas rurais. Produtores e parlamentares da bancada ruralista ameaçam montar uma frente única para exigir uma prorrogação mais generalizada das dívidas do setor.