Título: Para Deutsche, PIB cresce 3,5% este ano
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2005, Finanças, p. C3

O Brasil deve ter um 2005 relativamente tranqüilo. "Riscos maiores, só no ano que vem", diz Norbert Walter, economista-chefe do Deutsche Bank e CEO do Deutsche Bank Research. Em visita de dois dias ao Brasil, o executivo alemão fez palestra ontem de manhã em São Paulo, falando sobre as perspectivas para a economia mundial e brasileira. Walter prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresça 3,5% este ano. Para o economista, as recentes elevações da Selic ainda não devem comprometer a "forte recuperação" da economia brasileira. Mas destaca que reformas estruturais são essenciais para manter as taxas de crescimento no médio prazo e que as eleições presidenciais de 2006 podem comprometer o andamento dessas reformas. Sobre os juros, o economista alemão concorda que eles estão altos demais (sobretudo as taxas reais). Mas ele ressalta que o Brasil, uma vez que decidiu adotar o sistema de metas de inflação, precisa cumprir as metas. Caso contrário, isso pode gerar uma crise de confiança nos investidores internacionais. Na apresentação, o economista ressaltou o bom desempenho das contas fiscais em 2004 e a "dramática" melhora das contas externas. Para este ano, Walter estima um superávit na conta de transações correntes de 1% do PIB. O Executivo também elogiou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. "A administração de Lula conseguiu restaurar a confiança do investidor", diz, destacando a política de aperto fiscal e monetário e o "ambicioso" programa de reformas do governo petista. A previsão de crescimento de 3,5% para o PIB este ano, segundo Walter, é realista e o país não deve ter maiores problemas para atingi-la. "O Brasil passa por um momento muito bom", diz. Para 2006, porém, ele vê alguns riscos. Entre eles, um ambiente externo menos favorável. Os déficits gêmeos americanos, preço do petróleo em alta, superaquecimento da economia chinesa e ataques terroristas estão entre os fatores que podem complicar os rumos da economia mundial. Para Walter, foi justamente um ambiente externo positivo que ajudou o Brasil a crescer 5,2% em 2004. Outro risco é a grande necessidade de recursos externos do Brasil, que ainda deixam o país vulnerável, apesar da boa melhora nos indicadores. No cenário externo, o economista do Deutsche não espera uma grande elevação dos juros, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Ele prevê pequena recuperação do crescimento europeu este ano, passando de 1,9% em 2004 para 2% em 2005. Nos EUA, uma pequena desaceleração, caindo de 4,25% para 3,25% no mesmo período. No mercado financeiro, a principal aposta são as bolsas (sobretudo as ações de empresas não-americanas). Norbert Walter veio ao Brasil a convite da Ernst & Young. Anteontem, falou com diretores do Banco Central e com empresários paulistas. Hoje, embarca para a Argentina. "Os empresários brasileiros já percebem que o real está forte em relação ao dólar, mas não em relação ao euro, e por isso, querem fazer mais negócios com a Europa", diz. Quando perguntado até quando o dólar vai continuar fraco em relação a outras moedas, Walter brinca. "Esta é a resposta que todo mundo está procurando saber."