Título: BNDES obtém lucro recorde de R$ 1,49 bi graças a participações
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2005, Finanças, p. C8

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou no seu balanço de 2004 um lucro líquido de R$ 1,498 bilhão, novo recorde histórico, superando em 44,3% o recorde anterior de R$ 1,038 bilhão apurado em 2003. O resultado teria sido de quase R$ 2 bilhões (R$ 1,965 bilhão) se em dezembro do ano passado o banco estatal não tivesse feito uma reavaliação dos seus critérios de classificação de risco de crédito, o que resultou no aumento de R$ 467 milhões nas provisões que já haviam sido feitas pela instituição. Segundo o diretor da área financeira do BNDES, Carlos Kawall, a reclassificação foi um "movimento dado no sentido de maior realismo" no que toca ao risco da carteira. Kawall disse que, com a mudança, a classificação ficou mais de acordo com a do sistema financeiro nacional, inclusive com a dos bancos privados. "O risco era o mesmo. A classificação é que era mais ousada", resumiu o superintendente da área financeira, José Roberto Fiorêncio. Com a mudança, a parcela dos créditos classificada como "AA", classe para a qual, de acordo com a legislação vigente, não é necessário fazer nenhuma provisão sobre o empréstimo, caiu de 61,8% do total em dezembro de 2003 para 27,6% em dezembro de 2004. A classe de risco "A", primeira a exigir alguma provisão (0,5% do valor do empréstimo), passou de 14,1% dos financiamentos do banco para 36,6%. Os créditos classe "B" (1% de provisão) passaram de 14,2% do total em 2003 para 22,8%. E os classe "C" (3%) aumentaram de 2,6% para 6,8%. Os créditos mais arriscados, de "D" a "H", (risco de 10% a 100%) sofreram pequena redução, de 7,3% para 6,2% do total. O total das provisões para risco de crédito feitas em 2004 somou R$ 1,638 bilhão, contra R$ 1,88 bilhão no fechamento de 2003. Vale ressaltar que, ao fechar o acordo para a dívida de US$ 1,2 bilhão da AES no fim de 2003 o banco estatal reduziu substancialmente as provisões feitas naquele ano e transformou em lucro o que seria o primeiro prejuízo da sua história. Ainda assim, a inadimplência no balanço de 2003 representava 3,1% da carteira de crédito, contra 0,59% no balanço de 2004. Kawall ressaltou também na entrevista na qual foi divulgado o balanço do BNDES que o lucro do exercício foi impulsionado, principalmente pela equivalência patrimonial (participações acionárias do banco em empresas) que alcançou R$ 1,517 bilhão. Já as receitas oriundas dos empréstimos (R$ 9,494 bilhões) praticamente empataram com as despesas (R$ 9,443 bilhões). Em 2003 foi pior. As despesas com a atividade principal do banco (conceder empréstimos) somaram R$ 4,176 bilhões e foram R$ 563 menores que as receitas. Os ativos fecharam o ano passado em R$ 164 bilhões, contra R$ 152,1 bilhões em 2003. Como o Conselho de Administração do BNDES decidiu transferir para o acionista (a União) apenas 25% do lucro (R$ 374,5 milhões), o patrimônio líquido do banco subiu de R$ 12,857 bilhões em 2003 para R$ 14,115 bilhões. O patrimônio de referência (PL mais 50%) subiu de R$ 19,3 bilhão para R$ 21,2 bilhões, valor considerado suficiente por Kawall para dar sustentação ao orçamento de R$ 60,8 bilhões de 2005. A exceção é o limite de 25% do patrimônio de referência para o crédito por empresa, que foi a R$ 5,3 bilhões, considerado baixo para o apoio a alguns grandes projetos em gestação no país.