Título: Battisti envia carta com sua defesa ao Supremo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2009, Brasil, p. A4

O ex-ativista italiano Cesare Battisti encaminhou ontem aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) carta na qual nega ter cometido quatro assassinatos no fim da década de 1970, na Itália, quando fazia parte da organização Proletários Armados pelo Comunismo. Battisti faz um apelo aos ministros do STF para que levem os seus argumentos em conta no momento em que forem definir o seu pedido de extradição - feito pelo governo italiano.

"Da minha parte, estou disposto a confirmar pessoalmente perante Vossas Excelências tudo o que estou dizendo. Assim como estou disposto a afirmar aos familiares das quatro vítimas, olho no olho, que não matei seus entes queridos", afirma.

Na carta de 19 páginas, escrita na penitenciária da Papuda, em Brasília, onde cumpre pena, Battisti afirma que o processo que resultou em sua condenação na Itália é repleto de vícios que poderão comprovar sua inocência. O militante afirma que foi acusado dos homicídios por Pietro Mutti, seu ex-companheiro de luta armada durante o período da ditadura italiana. Battisti disse que Mutti agiu por vingança depois que os dois romperam na década de 70, com a intenção de proteger os antigos companheiros verdadeiramente responsáveis pelos assassinatos - após receber o benefício da delação premiada.

"Não sou responsável por nenhum dos homicídios dos quais sou acusado, senhores ministros. Constantemente fui utilizado no processo como um bode expiatório, por arrependidos", afirma.

O ex-militante também acusa seus antigos companheiros de fraudarem procurações em seu nome, usando antigas assinaturas que havia deixado para os integrantes da luta armada quando decidiu refugiar-se na França e no México. "O meu processo foi viciado, sendo esse um dos elementos que o ministro Tarso Genro reconheceu. A aprovação da extradição pelas três cortes francesas e, em seguida, pela Corte Europeia, foi sempre fundada pela existência daquelas procurações, que são absolutamente falsas", diz na carta. O militante reconhece que integrou a luta armada na década de 70 por razões políticas, mas nega que tenha atirado em qualquer pessoa nesse período.

A carta foi encaminhada aos ministros do STF pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). O STF deve julgar o caso até o fim de março. Os ministros vão decidir sobre o mérito do pedido de extradição, uma vez que o governo italiano recorreu ao tribunal contra a decisão do governo brasileiro de conceder refúgio político ao ex-militante.