Título: Pacote do governo e crise levam setor para imóvel mais barato
Autor: D"Ambrosio , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2009, Empresas, p. B6
A crise global e a expectativa dos empresários de construção em relação ao pacote do governo para a habitação estão mudando os contornos do setor. Não se fala mais em projeção de lançamentos para o ano, as decisões passaram a ser tomadas mês a mês - conforme a geração de caixa permite - e todas as empresas, independente da tradição, estão mirando o segmento econômico, de unidades de até R$ 130 mil, o mais beneficiado pelas medidas prometidas para serem anunciadas em breve. Diante da acomodação do setor, todo mundo quer aproveitar os benefícios do governo da melhor forma para engordar os resultados. Jefferson Dias/Valor
"O cenário está propício para vender durante a obra, porque o coprador sente mais segurança", diz Muszkat, da Even
Os primeiros dois meses foram de poucos lançamentos - e só os projetos mais baratos saíram do papel. Ninguém, até agora, se aventurou em grandes e caros empreendimentos. A Cyrela, maior do setor, só fez um lançamento no ano, em parceria com a Cury, de apartamentos entre 46 e 62 metros quadrados na zona leste de São Paulo. "Já tínhamos planos de fortalecer a marca Living (para o segmento econômico) e o pacote do governo só reforça a ideia", diz Ubirajara Freitas, diretor-geral da Cyrela.
A Even, com mais tradição em produtos para classe média e alta, escolheu um empreendimento de R$ 130 mil em Campinas para o primeiro e até agora único lançamento do ano. "Vendemos quase 100% em duas semanas", afirma Dany Muszkat, diretor de relações com investidores da Even.
A Brascan não lançou nada até o momento, mas todos os empreendimentos residenciais previstos para o primeiro trimestre - num total de R$ 559 milhões - ficam na casa de R$ 150 mil por unidade. O curioso é que a empresa vai usar todas as suas bandeiras para atuar no segmento econômico. Não apenas a MB, focada na baixa renda na região Centro-Oeste, como também Brascan, no Rio, e Company, em São Paulo. A Company, adquirida pela Brascan no segundo semestre, e com forte tradição em produtos para a alta renda na cidade de São Paulo.
"Eu não vejo problema em uma empresa como a Brascan entrar forte nesse segmento", afirma Luiz Rogélio Tolosa, diretor de RI da Brascan. Ele cita a Company, que em 1991, no Plano Collor, construiu mais de 2,5 mil casas populares. Segundo Tolosa, 70% dos lançamentos da companhia este ano devem ficar na faixa dos R$ 150 mil. "Já vimos em crises anteriores, que produtos bons e bem localizados desse tipo sempre têm comprador, mas a alta e altíssima renda privilegia a liquidez e para de comprar na planta", acrescenta.
Quem atua na área há mais tempo, como a MRV e a PDG Realty, também está empolgado com as medidas do governo. Acreditam que quem tem expertise nesse tipo de construção pode sair na frente. E, até mesmo nessas companhias, o tíquete médio caiu. Na MRV, por exemplo, os produtos entre R$ 80 mil e R$ 100 mil são os mais vendidos este ano. "As vendas foram bem em janeiro e o pacote do governo, com medidas de longo prazo, será muito importante para o setor", afirma Leonardo Correa, diretor de RI da MRV. "O pacote do governo permitirá um nível de crescimento razoável para o setor", afirma Ana Maria Castelo, coordenadora da FGV-Projetos. "Não repete 2008, mas muda o patamar de crescimento", completa.
Com poucos lançamentos, as vendas neste início de ano, estão concentradas nos estoques (empreendimentos já em obra). "O cenário está propício para vender durante a obra, porque o coprador sente mais segurança", afirma Muszkat, da Even.
Pelas prévias de vendas divulgadas por boa parte das empresas de capital aberto, apesar do fraco desempenho no terceiro e, principalmente, no quarto trimestre, e do cancelamento de boa parte dos lançamentos nos últimos meses do ano, as empresas de construção ainda conseguiram fechar 2008 com um desempenho melhor do que 2007.
Para este ano, porém, quase ninguém arrisca uma projeção. Principalmente de lançamentos - há empresas, inclusive, que vão abandonar o anúncio de previsão de lançamentos. As decisões e as metas são de curto prazo. "Não podemos tomar decisões de longo prazo num ambiente volátil, como o atual", afirma Rogério Furtado, da CR2.