Título: Cotações dos suínos recuam ao menor nível desde 2007 em SC
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Fonte: Valor Econômico, 02/03/2009, Agronegócios, p. B11

Em dificuldades na comercialização por conta da crise mundial, a suinocultura de Santa Catarina registrou no mês de fevereiro o pior patamar de preços desde julho de 2007. O valor despencou para R$ 1,68 o quilo do animal vivo pago ao produtor, 22% menor do que o preço de fevereiro de 2008, conforme dados apurados em Chapecó pela Epagri-Cepa, empresa de pesquisa estadual. A conjuntura levou produtores independentes a criar uma bolsa de suínos para tentar estancar a queda, e as indústrias pedem auxílio do governo federal para a compra de estoques.

"É um momento de muita indecisão. Há muito desemprego e agroindústrias em férias coletivas. Ainda não sabemos o que esperar nem das próximas semanas", disse Wolmir de Souza, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), que representa os produtores não integrados às agroindústrias.

Desde o estopim da crise em setembro do ano passado, o segmento tenta se ajustar. Coopercentral Aurora, Sadia e Perdigão deram férias coletivas em suas unidades para regularizar os estoques. Ainda não há demissão em massa, mas as dispensas poderão ocorrer se a conjuntura não melhorar nos próximos meses.

De acordo com o diretor do Sindicarnes-SC, Ricardo Gouvêa, as indústrias enfrentam queda do consumo tanto no exterior quanto no mercado interno, e isso pressionou os preços para baixo. "O mercado encolheu por falta de crédito", afirmou, acrescentando que negociações no exterior, ainda que com o câmbio em melhor patamar para a exportação, não reagiram. "Os países para quem vendemos começaram a querer negociar muito o preço e os volumes caíram", disse ele. Estão entre os principais países compradores da carne suína catarinense, Hong Kong, Cingapura e Ucrânia.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) mostram que em janeiro houve queda de 3,45% nos embarques de suínos de Santa Catarina na comparação com janeiro de 2008, para US$ 20,4 milhões.

O quadro negativo de preços, depois de levar produtores a pedir ao governo federal a abertura de negociações com russos para troca de trigo russo por carne suína de SC (por enquanto sem uma resposta final sobre o assunto), agora os impulsiona para criação já na próxima semana de uma bolsa de suínos, como já existe em São Paulo e em Minas Gerais, a fim de evitar mais retrações de preços.

Souza diz que por meio da bolsa de suínos, produtores independentes e pequenos e médios frigoríficos que são compradores de sua produção, decidirão juntos um valor pelo quilo. Por meio deste mecanismo, será comercializado um total de produção da região por semana e uma cota para cada frigorífico, evitando que o produtor negocie individualmente com cada unidade de abate. "A bolsa evita uma concorrência entre os próprios atores do mesmo setor".

Já o sindicato das agroindústrias está em conversações para auxílio do governo federal na compra de estoques. Gouvêa diz que há discussões envolvendo a cadeia nacional do setor, que pede que o governo entre no mercado com compra de carnes, como faz com o milho. A ideia é usar as carnes na merenda escolar, uma proposta que em tempos de crise o setor já chegou a fazer, mas que ainda não andou.

Para Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), não há solução no curto prazo para a crise da suinocultura sem intervenção governamental no setor. "Há 50 mil toneladas de carnes suínas que precisam ser retiradas do mercado. Este volume ia para exportação entre novembro e dezembro, mas não foi por conta da crise internacional". Segundo Barbieri, além de as empresas não conseguirem vender os suínos, estão cheias de frangos em suas unidades estocados. "Estão jogando carne no mercado a qualquer preço para fazer caixa, mas esse é um sistema canibalista", destacou. "Nem as indústrias, nem os produtores aguentarão", citando que no caso do produtor, o problema é a venda do quilo a R$ 1,60 ou R$ 1,70, com um custo de produção a R$ 2,30, e nas indústrias, a queda de demanda e a falta de crédito.