Título: Lula espera melhora da economia apenas no segundo trimestre
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2009, Brasil, p. A2
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o primeiro trimestre será o mais "delicado" para a economia brasileira, por conta dos efeitos da crise mundial, e que espera uma recuperação a partir do segundo trimestre. "Continuo otimista com relação ao ano de 2009". AP Photo/Andre Penner
Balkenende, primeiro-ministro holandês, e Lula trocam camisetas das seleções de futebol: crítica ao protecionismo
Ele previu que as contratações devem superar as demissões este ano, apesar dos saldos negativos dos últimos três meses e das dispensas em massa em empresas como a Embraer. "É importante não comparar o que acontece no Brasil com outros países. Não temos uma crise generalizada".
No programa de rádio semana, Lula chegou a admitir que o desemprego pode até registrar piora em fevereiro. "Tivemos a primeira grande queda em dezembro. Depois tivemos uma queda menor em janeiro e, certamente, vamos ter em fevereiro".
Segundo o presidente, o governo vai atuar em quatro frentes para garantir a oferta de emprego no país: contratar dois a três turnos de operários para agilizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); anunciar em breve um programa de construção de 1 milhão de casas populares; promover a troca de geladeiras e fogões nas residências; e estimular a renovação das frotas de caminhões.
Lula fez questão de frisar que a Embraer, que demitiu 4,2 mil trabalhadores no último dia 19, é um caso excepcional, porque 90% da produção é direcionada ao exterior. O presidente informou que o governo está discutindo formas de estimular a aviação regional, com aviões da Embraer. E criticou indiretamente as companhias aéreas nacionais, como TAM e Gol. "Não podemos nem nos queixar dos países estrangeiros que suspenderam pedidos, porque empresas brasileiras não fazem pedidos para a Embraer".
Lula esteve ontem em São Paulo para uma reunião com o primeiro-ministro dos Países Baixos, Jan Peter Balkenende, que está visitando o país. Em um discurso de improviso para empresários dos dois países na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Lula se mostrou preocupado com a falta de crédito e criticou o protecionismo, que deverá ser sua principal bandeira no encontro do G-20, no dia 4 de abril, em Londres.
O presidente brasileiro disse que empresas de grande porte, como a Petrobras, ao buscar dinheiro no país por conta da falta de liquidez externa, disputam crédito com pequenas e médias companhias. Ao invés de criticar os bancos pelo spread como tem sido a tônica do governo, Lula disse que essa concorrência tornou o spread mais "caro" e o crédito mais "seletivo".
"Não temos o direito de aceitar o protecionismo como solução para a crise. Se os americanos, a Europa e o Brasil se fecharem, a crise ganhará uma dimensão maior", disse Lula. O tema é desconfortável para a Fiesp, que reúne setores que pedem proteção contra a concorrência. Lula pediu que a conclusão da Rodada Doha seja uma prioridade do G-20 e recebeu o apoio do primeiro-ministro dos Países Baixos. Os empresários holandeses da comitiva demonstraram interesse pelas obras do PAC. Lula e Balkenende trocaram camisas das seleções de Brasil e Holanda e disseram que os países, além do comércio, compartilham o amor ao futebol. (colaborou Bianca Ribeiro, do Valor Online)