Título: De olho na cotação futura, Petrobras não reduz preços internos
Autor: Lucchesi , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2009, Brasil, p. A6
Apesar da queda nos preços do petróleo, de 10% ontem, levando o produto ao patamar de US$ 40 o barril, o consumidor brasileiro não deve esperar por uma baixa imediata nos preços da gasolina e outros derivados no mercado interno. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse ontem ao Valor que as cotações futuras, no horizonte de três meses, indicam alta tanto do petróleo como da gasolina e do óleo diesel. Ana Paula Paiva/Valor
Gabrielli, presidente da Petrobras: licitação para as 28 novas plataformas pode ser feita de uma vez ou em blocos
Segundo explicou o executivo, há três variáveis no momento que levam a estatal a manter os preços nos atuais níveis. Primeira: os preços futuros da commodity e seus derivados. "Alguém poderá dizer qual é a cotação que teremos daqui a três meses?", questionou. Outro fator que mencionou é o câmbio,. Segundo ele, não se sabe se o dólar estará valendo R$ 2 , R$ 2,40 ou até mais que isso nos próximos meses. O terceiro ponto relevante é o preço do álcool, que tem caído mesmo em época de entressafra. "Hoje, no Brasil, o álcool já responde por 51% do consumo nos automóveis". Esse percentual inclui a mistura na gasolina e os carros flex que só usam álcool.
Segundo Gabrielli, a Petrobras coloca a gasolina nas refinarias a R$ 1 o litro. "A diferença para o preço na bomba vem de margens e impostos cobrados", afirmou. O último reajuste aplicado pela estatal foi em maio do ano passado.
Ontem, em Londres, o petróleo tipo Brent - produto que a Petrobras usa como referência em seus negócios - teve queda de 8,9% e fechou a US$ 42,21 o barril. Já o tipo WTI, negociado na Bolsa de Nova York, caiu 10,3%, para US$ 40,15 o barril. A retração foi puxada pelo panorama sombrio da economia dos Estados Unidos e em razão do fortalecimento do dólar, segundo analistas. Os contratos de gasolina para entrega em abril caíram US$ 0,09, para US$ 1,28 o galão (3,78 litros).
Gabrielli, disse ainda que está avaliando se a licitação para a construção de 28 novas plataformas de sondagem e perfuração de petróleo será feita de uma vez só ou em blocos, por causa das dificuldades de financiamento em meio à maior crise de crédito da história. O financiamento dos 12 navios-plataformas já licitadas no ano passado será feito com a participação de agências de crédito à exportação dos países ricos, afirmou.
Ele explicou que essas agências estão mais agressivas por causa da contração no mercado financeiro internacional. "Eles querem estimular a exportação dos países deles e nós vamos aproveitar que somos grandes importadores", disse. Antes da crise, havia falta de capacidade de produção de estaleiros e agora a situação mudou", conta. Para ele, as agências que querem estimular a produção de venda desses navios e outros equipamentos para o setor "tornaram-se mais flexíveis". Para o diretor financeiro da estatal, Armir Barbassa, as diversas companhias que ganharam a licitação para a construção das sondas já estão em fase de negociação com várias dessas ECAs, do inglês "Export Credit Agencies".
Junto ao governo da China, a Petrobras finaliza a contratação de empréstimo de prazo de vencimento em sete a oito anos, no total de US$ 10 bilhões. De acordo com Barbassa, é um prazo mais adequado para os investimentos que a empresa pretende realizar. A estatal contratou US$ 6 bilhões em empréstimo-ponte com um grupo de bancos, dos quais US$ 1,5 bilhão já rolados por meio de um eurobônus. Outros R$ 25 bilhões, entre BNDES e caixa da companhia (valor entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões) vão completar suas necessidades de financiamento até 2010.