Título: Mercado espera corte de um ponto na Selic
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2009, Brasil, p. A7

Os dados econômicos continuam dando subsídios para uma nova queda de um ponto da taxa Selic, segundo analistas do mercado financeiro, apesar de o índice de inflação recuar em um ritmo menor do que em outros países.

"A economia está em desaquecimento relevante, com analistas já prevendo PIB negativo. Há também queda de preço de commodities muito importante. Difícil achar que inflação seja problema", avalia Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Private Banking. Vieira lembra que um corte ainda maior do que um ponto já está refletido nas taxas de juros futuros. "Hoje seria perto de 1,25".

A Tendências Consultoria, em relatório, questiona se o Copom do Banco Central não poderia até mesmo surpreender o mercado com um corte "bem maior nos juros" na próxima reunião, apesar de admitir que este não é o cenário mais provável. "Para dar suporte a uma decisão mais arrojada do BC, além dos dados muito ruins de atividade econômica, os modelos de inflação do próprio BC apontam para inflação igual ou abaixo do centro da meta", diz o texto.

Marianna Costa, economista-chefe da Link Investimentos, concorda que há certa resiliência na inflação, por conta da inércia dos preços administrados (30% do total do IPCA), mas o ambiente é de desaceleração econômica "muito pronunciada", o que garante espaço para continuidade do afrouxamento do aperto monetário.

Para Jankiel Santos, economista do BES Investimentos, mais importante do que olhar a inflação nos últimos meses é a preocupação com o repasse cambial. "Até agora não houve e acho que não haverá, mas essa incerteza é que tem impedido que as previsões recuem de forma mais acentuada."

Além disso, os dados econômicos são muito frágeis e não apresentaram ainda sinais de recuperação, afirma Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin. "Alguma melhora na atividade só no quarto trimestre."

À medida que a crise começa a afetar emprego e renda, lembra Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, a desaceleração da inflação vai ser mais acentuada. "O desemprego deve sair de 7%, no ano passado, para 10% nesse ano, enquanto a renda, que cresceu entre 7% e 8%, pode crescer entre 2% e 3%.