Título: Em SP, Dilma promete casa popular
Autor: Boechat , Yan
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2009, Política, p. A9
Assim como assumiu o papel de mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, vai ocupar posição semelhante no ambicioso plano de habitação que o governo federal vai lançar em 15 dias e que tem como objetivo principal a construção de 1 milhão de casas populares. Ficará a cargo da ministra e virtual candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a coordenação do programa e a interlocução direta com governadores e prefeitos para definir os detalhes de onde e como o projeto será implantado. "O plano tem como objetivo também a geração de empregos para combatermos a crise", afirmou Dilma durante inauguração de uma estação de tratamento de esgoto em Campinas. Poucas horas antes, a ministra reuniu-se com um grupo de 20 prefeitos da região para discutir o andamento das obras do PAC. Dominique Torquato/AAN/AE
Ministra discursa: "Além de criar moradia para pessoas com renda de 0 a 6 mínimos o programa vai gerar milhares de empregos"
Apesar de ainda não ter sido lançado oficialmente, o plano habitacional que o governo promete há quase um mês vem ganhando cada vez mais destaque nas aparições públicas de Lula e de Dilma. Ontem, em mais uma escala do périplo de divulgação das obras do PAC que o presidente e sua virtual candidata vêm fazendo pelo país o assunto foi retomado várias vezes.
Dilma fez questão de ressaltar à plateia de cerca de 2 mil pessoas, a maior parte moradores dos bairros periféricos de Campinas levados ao local por 30 ônibus cedidos pela Odebrecht, construtora da obra, que a construção das casas populares servirá para criar empregos. "Além de criar moradia para pessoas com renda de zero a seis salários mínimos esse programa vai gerar milhares de empregos, esse é um dos objetivos fundamentais dele", disse a ministra.
Falando sobre o projeto pela primeira vez desde que a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) disse não haver tempo hábil para construir 1 milhão de casas até 2010, Lula procurou destacar as dificuldades do plano e fez questão de não citar uma data para a conclusão das obras. "Nem nós, nem as empresas, nem a Caixa Econômica Federal ou os bancos têm experiência em construir 1 milhão de casas", afirmou o presidente, para logo em seguida transferir uma parcela da responsabilidade pelo sucesso do projeto às construtoras. "É bom a indústria se preparar, porque nós queremos construir 1 milhão de casas", afirmou o presidente.
Dilma também procurou ser menos enfática em relação a números e datas relacionados ao projeto. Durante seu discurso, ela disse que o governo vai construir "o maior número de casas no menor tempo possível", em um sinal claro de que a confiança inicial em atingir o número mágico de 1 milhão de residências até 2010 parece ter arrefecido.
Se, de fato, conseguir erguer 1 milhão de residências no próximo ano e meio, o o governo vai quebrar todos recordes da construção civil em décadas. No ano passado, a Caixa conseguiu financiar cerca de 200 mil habitações, quase todas elas voltadas para a classe média brasileira. No projeto em gestação no Planalto, a ideia é atender primordialmente a população que recebe entre zero e seis salários mínimos.
Mesmo com o "boom" da construção nos últimos dois anos, as empresas do setor nunca conseguiram lançar empreendimentos para essa parcela da população, que responde por mais de 90% do déficit habitacional brasileiro de 8 milhões de residências. A alegação das construtoras era de que só com subsídio seria possível entrar nesse segmento. Dilma afirmou que haverá subsídio federal.
No encontro com os prefeitos da região, Dilma não tratou do projeto. Assim como havia ocorrido em Brasília, no encontro considerado como antecipação de campanha, o PAC foi o assunto principal. Logo após a reunião ocorrida na Prefeitura de Campinas, a ministra se disse pré-candidata à sucessão de Lula tanto quanto qualquer eleitor brasileiro poderia ser.