Título: Lula diz que não tem pressa, mas reforma sai na próxima semana
Autor: Raymundo Costa, Cristiano Romero e Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Brasil, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem em Paysandú que ainda não definiu uma data para fazer o anúncio dos novos nomes que integrarão o governo com a reforma ministerial. "Não tenho um dia preciso para anunciar. Pode ser qualquer dia, só não pode ser hoje porque eu não estou no Brasil", afirmou Lula a jornalistas pouco antes de deixar o Uruguai com destino a Brasília. Depois de assistir na terça à posse do novo presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, Lula esteve ontem em Paysandú para inaugurar uma fábrica de malte da AmBev. Segundo Lula, a reforma será feita "sem nenhuma pressão, sem nenhuma pressa" e será "produtiva para a sociedade brasileira". O presidente foi irônico quando questionado sobre a repercussão de seu polêmico discurso no Espírito Santo. "Um dia vou perguntar à imprensa o que ela acha da repercussão que foi dada ao assunto", disse. Muito embora tenha afirmado ontem que não tem pressa, Lula anuncia as mudanças na próxima semana e de uma única vez. O presidente já tem em mãos as opções para as diversas Pastas, mas ainda administra intensas pressões para encaixar as peças do quebra-cabeças ao feitio de cada partido da base. Lula pretende aproveitar o fim de semana para administrar pressões de última hora. Um exemplo: sentindo-se fortalecido após a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara, o PP passou a reivindicar o Ministério da Saúde, hoje ocupado por Humberto Costa, um dos petistas que devem deixar o governo a fim de abrir espaço a outros partidos aliados de Lula. O presidente do Senado, Renan Calheiros, também cancelou a viagem que faria no fim de semana a Alagoas. O PMDB, que entregou a cabeça de Amir Lando, resolveu bater o pé para manter com o partido pasta da Previdência e Assistência Social. O nome indicado pela bancada do Senado é o do senador Romero Jucá (RR), mas a Previdência é objeto da cobiça também de outras legendas, inclusive do próprio PT, que não se conforma com a troca de afilhados políticos nos estados que vem sendo feita pelos pemedebistas. Entre as opções examinadas por Lula para a Previdência está o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que também é alternativa para a Saúde, hoje na mira do PP. É certa também a nomeação da senadora Roseana Sarney. Ela é cotada no Planalto para o Ministério das Cidades, atualmente comandado por Olívio Dutra, mas o grupo de José Sarney avalia que a máquina montada por Olívio está de tal forma dominada pelo PT, que ela enfrentaria muitas dificuldades. Roseana pode acabar nas Comunicações no lugar do pemedebista Eunício Oliveira, que seria deslocado para outra pasta. Se tirar Olívio Dutra do ministério, Lula pretende alojá-lo em outro lugar no governo. Talvez a maior dificuldade enfrentada atualmente pelo presidente seja a definição sobre a coordenação política do governo. A pressão do PT para retomar o cargo é intensa, mas Lula reluta em abrir mão de Aldo. Se o ministro for sacrificado, as opções vão desde o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) ao ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner (PT-BA). Lula tem um leque de opções para o Planejamento, única pasta efetivamente vaga. O preenchimento não causa maior preocupação no Planalto: seja qual for o nome escolhido, tocará de ouvido com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.