Título: Berger diz que dívida herdada foi de R$ 60 milhões
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Política, p. A10

A administração do prefeito de Florianópolis Dário Berger (PSDB) acusa a prefeita anterior, Ângela Amin (PP), de ter deixado uma dívida de pelo menos R$ 60 milhões sem os devidos recursos para seus pagamentos. No montante, estariam principalmente dívidas de curto prazo com fornecedores da prefeitura, que segundo os tucanos, foram deixadas de ser pagas a partir de setembro do ano passado. A administração de Berger contratou a auditoria Martinelli, empresa de Joinville (SC), para fazer uma apuração exata do tamanho do total devido e não pago pela ex-prefeita. De acordo com o secretário de administração, Filipe Mello, os R$ 60 milhões podem ser ainda maiores, depois do pente fino que será feito pela Matinelli Auditores."O que posso dizer com certeza é de que a dívida de curto prazo contraída e não paga é de no mínimo R$ 60 milhões", afirma Mello. Segundo ele, o próprio aluguel do prédio onde hoje funciona a prefeitura, na Rua Conselheiro Mafra, no centro da cidade, desde setembro não teve seu aluguel pago, no valor de R$ 80 mil mensal. A ex-prefeita foi procurada e por meio de sua assessoria de imprensa informou que não faria declarações neste momento, em que não há um relatório conclusivo. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) informou que nos próximos dias divulgará levantamento do cumprimento ou não da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) pelos prefeitos de todos os municípios catarinenses, e que por enquanto, também não poderia se pronunciar. Mello acredita que em três semanas terá um relatório final da auditoria. Como medida imediata, a administração atual não está pagando os antigos credores, mas fazendo uma lista de pagamentos futuros, de acordo com o dia em que determinado serviço foi contratado em 2004. Quando houver sobra de recursos no caixa, de acordo com Mello, esses credores serão pagos. "Só não posso prever quando a sobra vai acontecer", diz. Os R$ 60 milhões, caso sejam confirmados, serão correspondentes a um sexto da receita corrente líquida total da prefeitura no ano passado, de R$ 360 milhões. O montante é superior ao valor recolhido com pagamentos da primeira parcela e cota única do IPTU, de R$ 35 milhões, e fica próximo aos R$ 85 milhões estimados com arrecadação total de IPTU. De acordo com relatório entregue pela ex-prefeita, segundo informações do atual secretário de finanças, Augusto Hinckel, os ativos financeiros do município eram de R$ 52,1 milhões em dezembro de 2004 e o passivo financeiro era de R$ 72 milhões. Hinckel destaca que havia um déficit de R$ 20 milhões que, no entanto, é maior porque nos R$ 52 milhões de ativos estavam inclusos R$ 18,6 milhões que foram aplicados pela administração Amin em um fundo do Banco Santos. Dos R$ 18,6 milhões, os recursos municipais reduziram-se R$ 250 mil com a quebra do banco, segundo extrato atual. Mello reconhece que a administração anterior não tem culpa pela quebra do banco, mas pontua que foi aplicado um valor muito alto, 98% dos recursos do fundo de previdência, no fundo Credit Yield, do Banco Santos. "Foram colocados todos os ovos em uma cesta só e numa aplicação sem liquidez", diz. Nesta semana, em declaração para a imprensa regional, Berger disse que obras em Florianópolis só serão anunciadas no segundo semestre por problemas no caixa, contrariando seu discurso de eleição, que previa o início imediato de um projeto de pavimentação na capital.