Título: Índia usa obras, não gasto social, contra pobreza
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Internacional, p. A15

O governo indiano delineou esta semana seu plano de combate à pobreza. O Orçamento para o ano fiscal que vai até março de 2006 prevê aumento dos gastos com infra-estrutura e crédito, como forma de atacar a miséria. Além disso, o governo pretende cortar os impostos para as empresas - uma forma de atrair investimentos externos - e diminuir o ritmo de aumento dos seus gastos militares. O Orçamento não prevê programas assistencialistas, e sim obras de incentivo à economia nas áreas mais pobres. Assim, haverá investimento em infra-estrutura para levar eletricidade a 125 mil vilarejos. Os gastos com saúde devem subir 22%, e os investimentos em estradas, 80%. O Partido do Congresso voltou ao poder ano passado com uma plataforma de levar o crescimento econômico às áreas mais pobres do país, que não vinham sendo beneficiadas pelo forte expansão da economia indiana. O PIB indiano cresceu 8,5% no ano passado, melhor resultado em 15 anos. O governo espera crescimento este ano de 6,9%. O Orçamento prevê ainda uma redução de cinco pontos percentuais nos impostos das empresas - de 35% para 30% -, além da facilitação das importações de insumos, disse o ministro das Finanças indiano, P. Chidambaram. "A Índia tem de aumentar sua capacidade industrial para padrões mundiais", afirmou o ministro. A Índia tem visto a China se tornar um destino preferencial das empresas que se instalam na Ásia nos últimos anos. Com as novas medidas, o governo pretende atrair esses investimentos. Para financiar uma pretendida diminuição do déficit fiscal, hoje em 4,5% do PIB, a Índia vai aumentar o número de empresas que pagam impostos sobre o valor das vendas de seus produtos. "É um Orçamento de crescimento", disse B.V.R. Subbu, presidente da Hyundai Motor India, unidade local da gigante automotiva sul-coreana. "Eles estão pavimentando o caminho para o crescimento." Quanto aos gastos com defesa, o país aumentou seu orçamento em 7,8% em relação a 2004, menos do que o aumento em relação ao ano anterior, que foi de 17%. Em 2005, a quarta maior força militar do mundo vai gastar US$ 18,8 bilhões. Especialistas dizem que essa quantia não será suficiente para modernizar seus aviões de combate e seus submarinos. "Se você quer modernizar suas forças militares, tem de manter um fluxo estável de fundos. É preocupante que se diminua o ritmo de alocação de orçamento", disse Uday Bhaskar, diretor do Instituto de Análise e Estudos de Defesa, um think-tank financiado pelo governo. O processo de modernização começou sob o governo anterior, que era hindu nacionalista. A Índia, que é uma potência nuclear, tem gastos importantes com a área de defesa. Diz que isso se faz necessário por estar próxima a dois rivais também nucleares, o Paquistão e a China. Espera-se que o país feche neste ano negócios de compra de seis submarinos da França e sistemas de lançamentos de foguetes da Rússia. O país quer também comprar 126 aviões de combate, mas ainda não definiu de quem. Mais de 75% do orçamento militar vai todo ano para o pagamento de pensões e para a manutenção das forças armadas de 1,3 milhão de homens.