Título: Jarbas cobra de Lula auditoria independente no Real Grandeza
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2009, Política, p. A9

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) cobrou ontem, da tribuna do Senado, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva instale auditoria independente para apurar a disputa partidária pelo comando da Fundação Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas e da Eletronuclear. Em discurso sobre o que considera "degradação pública do sistema político brasileiro" - que mobilizou o Senado por quase duas horas -, Jarbas citou o caso da Real Grandeza como "prova clara e inequívoca" da corrupção na vida partidária, que denunciou em entrevista à revista "Veja". Ruy Baron/Valor

Jarbas (com Renan): "Nem na ditadura tive meus direitos políticos cerceados"

Jarbas anunciou que apresentará projeto de lei para proibir que as diretorias financeiras de empresas estatais sejam ocupadas por indicações partidárias. Na proposta, exigirá, ainda, a aprovação dos nomes dos diretores pelo Senado - assim como já ocorre com os dirigentes das agências reguladoras. No caso da Real Grandeza, a queda-de-braço é entre PMDB e PT.

Dissidente do PMDB e opositor do governo Lula, Jarbas disse que, após a entrevista, sua vida está sendo "vasculhada" por "arapongas" que querem intimidá-lo. Afirmou não estar amedrontado e repetiu seu diagnóstico de que as distorções na vida política começam na elaboração do Orçamento da União - "o dinheiro que deveria ir para obras prioritárias nos municípios escorre pelos esgotos da corrupção e dos desvios, muitas vezes com a participação dos ordenadores de despesas do Poder Executivo, indicados pelos partidos".

Anunciado previamente, o pronunciamento levou ao plenário mais da metade da bancada do seu partido - a sigla mais atacada por ele na entrevista. Senadores do PMDB reuniram-se pela manhã e, por unanimidade, criticaram Jarbas pela generalização das críticas de corrupção no PMDB. Irritados, os senadores decidiram acompanhar o discurso e reagir, se fosse o caso. O líder Renan Calheiros (AL) estava escalado para falar, mas, como não houve ataques diretos, não pediu a palavra. Vários pemedebistas manifestaram satisfação com as explicações dadas por Jarbas, de que não referiu-se a todo o PMDB.

Quanto a Renan, Jarbas classificou de "retaliação mesquinha" sua destituição da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) - decisão tomada na segunda-feira pelo líder. Jarbas integrava a CCJ desde que chegou ao Senado, há dois anos e meio. "Nem mesmo na ditadura tive meus direitos políticos cerceados, apesar de combatê-la diuturnamente. Agora, em pleno regime democrático, que tive a honra de ajudar a construir, sou impedido de exercer meu mandato em sua plenitude", disse.

Em vez de ataques diretos, Jarbas levou à tribuna a discussão da corrupção, que afirmou ser estimulada pela impunidade no país. Defendeu a necessidade da realização da reforma política. "No Brasil dos dias atuais, a certeza da impunidade dá uma força muito grande a quem não agiu com lisura e correção. As pessoas se agarram aos cargos como um marisco no casco de um navio - não caem nem nas maiores tempestades", disse.

Foram várias manifestações de apoio ao discurso do ex-governador de Pernambuco. Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse tratar-se do discurso que ele gostaria de ter feito, "chamando atenção para o verdadeiro festival de corrupção no país, que acontece sob o beneplácito de todos os poderes". Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que "não apenas existe corrupção, mas ela faz parte da paisagem e todos a toleram". Tião Viana (PT-AC) constatou que a "corrupção existe em todas as esferas da vida pública". Demóstenes Torres (DEM-GO) concordou com o diagnóstico da corrupção e disse que o Senado faz parte dessa "degradação".

Jarbas terminou seu discurso apresentando duas propostas tiradas, segundo ele, do documento "Combate à Corrupção - Compromisso com a Ética", integrante do Programa de Governo de Lula na campanha de 2002: criação de uma agência anticorrupção e retomada do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral para acompanhar os processos relativos às denúncias de compra de votos e uso eleitoral da máquina administrativa.