Título: G-20 espera que EUA não olhem apenas para o seu próprio umbigo
Autor: Luce, Edward
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2009, Internacional, p. A11

Muita gente fora dos EUA está preocupada com o fato de Barack Obama estar dando escassa atenção à dimensão mundial do colapso do sistema financeiro. Seu encontro ontem, na Casa Branca, com o premiê Gordon Brown, que hospedará a cúpula do G-20 em Londres no mês que vem, pode ter contribuído apenas em parte para afastar essas preocupações.

Obama repetiu ontem as preocupações do premiê britânico sobre "regulamentação frouxa, enorme excesso de alavancagem [e os] enormes riscos sistêmicos assumidos por instituições sujeitas ou não a regulamentação".

Mas além desse diagnóstico compartilhado sobre como o mundo meteu-se nessa confusão, Obama deu poucas pistas sobre se compartilha o entusiasmo de seu colega britânico por um "New Deal mundial". Assessores negam que o presidente não esteja de olho no cenário internacional e dizem que ele trabalha nos bastidores para formular uma abordagem para a cúpula londrina.

O encontro ontem foi o quarto de Obama com um líder do G-20, após reuniões com líderes do México, Canadá e Japão. O presidente também conversou pelo telefone com a maioria dos outros 16.

"O presidente está envolvido com os líderes do G-20 e outros na reta de aproximação da cúpula de Londres, visando desenvolver uma abordagem coordenada que ataque agressivamente a crise econômica mundial", disse uma alta autoridade governamental.

Mas a Casa Branca deu poucas pistas sobre os possíveis desdobramentos, provavelmente porque ainda não cristalizou plenamente sua agenda. Parte do problema é que poucas autoridades econômicas já foram nomeadas. Tim Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, continua sendo o único nome confirmado pelo Senado.

Outro elemento é que Washington não compartilha o entusiasmo europeu por um novo sistema de regulação mundial. Autoridades da Casa Branca dizem que os EUA estão interessados em compartilhar as melhores práticas e possivelmente apoiar um "colegiado de supervisores" internacional. Os EUA também aceitariam liderar os esforços para reformular as regras internacionais de adequação de capital e tratar do papel das firmas de classificação de crédito.

Mas Washington provavelmente não aceitará quaisquer sugestões de que outros países tenham ingerência sobre a supervisão dos mercados financeiros americanos.

"Com base em uma postura ideológica, os EUA não vão querer que saia do G-20 qualquer documento propondo algo que lembre uma agência regulamentadora mundial", diz Adam Posen, economista do Instituto Peterson de Economia Internacional.

Em contrapartida, Obama provavelmente se alinhará com Brown na firme defesa de que outras economias aprovem pacotes de estímulo maiores para estimular a demanda mundial.

Autoridades americanas também estão preocupadas com a capacidade da União Europeia (UE) de socorrer grandes bancos em dificuldades, alguns dos quais com ativos bem maiores do que o PIB de seus próprios países.

"O que aprendemos é que algo que aconteça na Islândia pode afetar todos nós", diz Bill Gale, um economista no Brookings Institution. "O governo não quer ficar de braços cruzados e ver os bancos de outros países indo para o brejo. Quando grandes bancos entram em colapso, todos nós saímos perdendo: o todo é maior do que a soma de suas partes".

Ainda não sabemos como essa esperança se traduzirá em políticas concretas. Também não sabemos como evoluirá a posição de Washington em relação às esperanças de Brown quanto à reestruturação do sistema de Bretton Woods, com uma reformulação do Fundo Monetário Internacional.

"O principal objetivo de Obama será coordenar gastos fiscais muito maiores e um esforço mais vigoroso para evitar colapsos de grandes bancos em todo o mundo", diz Posen. "Todas as outras coisas são secundárias."