Título: Produto brasileiro perde espaço no mercado chinês
Autor: Cynthia Malta
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Especial, p. A20
O crescimento econômico, o dólar mais barato e a melhora na renda da população aumentam a presença da China no total importado pelo Brasil - passando de 4,57% em janeiro de 2004 para 6,06% em fevereiro deste ano. Mas o mesmo não ocorre no mercado chinês com as mercadorias brasileiras, cuja participação encolhe de 1,12% para 0,96% no mesmo período. O superávit comercial do Brasil também vem recuando. No ano passado chegou a US$ 1,73 bilhão e nos últimos 12 meses, terminados em fevereiro, caiu para US$ 1,53 bilhão. Em fevereiro, a balança ficou deficitária para o lado brasileiro, em US$ 34 milhões. "Apesar de não ter começado ainda o embarque de soja para a China, isso não explica a queda do superávit já que os dados estão acumulados em 12 meses. O crescimento das importações é o que explica o resultado", observaram economistas do Bradesco, em boletim divulgado ontem. Essa tendência já estava sendo desenhada no ano passado, quando as exportações brasileiras para a China cresceram 20%, depois de terem aumentado 79% em 2003. As importações, de produtos de maior valor agregado, mostraram forte expansão em 2004, de 72,7% - taxa bem superior aos 38,2% registrados no ano anterior. O crescimento da economia brasileira no ano passado, de 5,2%, e a queda nas cotações de algumas commodities exportadas pelo Brasil ajudam a explicar esse resultado. Para este ano a previsão de especialistas e do governo brasileiro é de que o superávit brasileiro continuará encolhendo. Isso não significa que as exportações brasileiras apresentarão desempenho medíocre. A China é que vem mostrando um ritmo de expansão forte nas vendas ao Brasil. Do lado das exportações brasileiras, há dois produtos que devem ser observados de perto nos próximos meses: soja e minério de ferro, que equivalem a quase 60% do que é embarcado pelo Brasil ao mercado chinês. A quebra da safra brasileira de soja, o principal produto brasileiro comprado pelos chineses, respondendo por quase a metade dos embarques em 2004, vem elevando o seu preço no mercado internacional, mas a receita estimada para as exportações ainda é menor do que a obtida na safra passada. As esmagadoras de soja informaram ontem que o volume a ser exportado da safra que vai de fevereiro último a janeiro de 2006 vai aumentar. Mas a receita total das exportações ficaria em US$ 9,09 bilhões, inferior aos US$ 10,048 bilhões da safra passada. As vendas de minério de ferro podem dar um bom salto. A Vale do Rio Doce acaba de negociar com os chineses um aumento de 71,5% no preço do minério. Treze siderúrgicas chinesas devem importar 35,4 milhões de toneladas dessa matéria-prima brasileira em 2005.