Título: VarigLog entra com pedido de recuperação judicial
Autor: Campassi , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2009, Empresas, p. B6
A VarigLog entrou ontem com pedido de recuperação judicial em São Paulo, medida que vem na esteira de disputas societárias, redução de suas operações e crescimento das cobranças judiciais. É a terceira empresa do setor aéreo a tentar recuperação neste ano e a sexta desde 2005.
Ontem, a companhia aérea especializada em transporte de carga enviou comunicado aos seus franqueados informando sobre a decisão de pedir recuperação. No texto, a VarigLog afirma que teve "depósitos embargados" e que "a indefinição da questão societária impedia a obtenção de crédito no mercado" nos últimos 12 meses. "A crise mundial, no fim do ano, deteriorou ainda mais a situação financeira da empresa", continua. "Para agravar, a partir de fevereiro, as receitas de nossos principais contratos passaram a ser penhoradas, tornando insustentável a manutenção das operações."
O pedido de recuperação deverá ser apreciado por um juiz e, caso seja concedido, suspende os processos contra a companhia. "A medida destina-se a permitir à empresa uma pausa, durante a qual ela negociará suas pendências com credores, ganhando fôlego para sanear as finanças", afirma a VarigLog. A companhia não divulgou o tamanho de suas dívidas.
A empresa também esclareceu no comunicado aos franqueados que mantém as atividades com voos cargueiros a partir de Guarulhos e Viracopos para oito cidades no Brasil e para Buenos Aires e Santiago do Chile.
Uma busca no site do Tribunal de Justiça de São Paulo mostra que a empresa vem sofrendo execuções com mais frequência desde o segundo semestre de 2008. Uma fonte ligada à companhia afirma que o maior volume de dívidas foi contraído com fornecedores e trabalhadores. As dificuldades da VarigLog, segundo essa fonte, vêm motivando franqueados a migrar para empresas concorrentes.
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que a VarigLog teve prejuízo de R$ 289 milhões em 2007. Seu patrimônio líquido (diferença entre ativos e passivos) era negativo em R$ 309 milhões. Não há dados públicos referentes a 2008.
A VarigLog foi vendida à Volo do Brasil em 2005, em meio à crise do antigo grupo Varig, do qual ela fazia parte. A Volo pertencia a três brasileiros e ao fundo americano MatlinPatterson. Em 2007, o fundo iniciou uma cobrança judicial de US$ 186 milhões (em valores da época) contra os sócios brasileiros e, no ano passado, o Matlin conseguiu exclui-los da sociedade e ficou no controle da Variglog. Como a lei não permite que um estrangeiro tenha mais de 20% de uma companhia aérea, a composição societária da empresa ficou frágil. O Matlin conseguiu liminares para continuar operando a companhia aérea, mas cresceram as dificuldades para conseguir crédito com bancos e fornecedores.
A Gol é uma das credoras da VarigLog, cobrando cerca de R$ 153 milhões. A companhia cargueira vendeu as operações da Varig à Gol em 2007, em meio ao processo de recuperação da velha Varig, por quase R$ 570 milhões. Mais tarde, por causa de uma reavaliação de ativos e passivos da Varig, a Gol passou a cobrar a VarigLog.
A VarigLog é a terceira empresa do setor aéreo a tentar a recuperação judicial neste ano. A Sata, que presta serviços aeroportuários, e a Pantanal, empresa aérea regional, já tiveram seus pedidos aceitos pela Justiça e estão em fase de elaboração do plano de recuperação. Outras três companhias aéreas optaram pela recuperação nos últimos anos. A Vasp, que iniciou o processo em 2005, teve a falência decretada no ano passado por descumprimento do plano. A BRA, que entrou em recuperação no fim de 2007, iniciará voos de fretamento neste mês. E a velha Varig, que também iniciou o processo em 2005, deve ter o fim da recuperação judicial decretado em breve, mas ainda não sanou suas dívidas.