Título: Amorim espera que Uruguai desista de candidatura à OMC
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Especial, p. A20

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que o Brasil ainda espera que, apesar da resistência uruguaia, todos os países do Mercosul apóiem a candidatura do embaixador brasileiro Luís Felipe Seixas Corrêa à direção geral da OMC. "Estamos tendo contatos sobre isso e queremos resolver as coisas numa base muito amistosa", disse o chanceler, descartando a hipótese de que a disputa na OMC crie atritos com o Uruguai. O governo do ex-presidente Jorge Batlle, que deixou o cargo anteontem, lançou no fim do ano passado a candidatura do diplomata Carlos Perez del Castillo à direção da OMC. Mesmo com a mudança de poder para um governo de esquerda, funcionários uruguaios têm dito que a postulação será mantida. "Achamos muito importante que a OMC tenha uma direção compatível com os objetivos que os países perseguem, não só o Mercosul, mas também o G-20. Mas também queremos ter uma relação que não tenha nenhum atrito com o Uruguai", afirmou Amorim. Anteontem, logo depois de sua posse, o novo presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, anunciou a adesão de seu país ao G-20. O grupo foi criado por iniciativa do Brasil para defender os interesses dos países em desenvolvimento nas negociações da Rodada Doha da OMC e o Uruguai era o único integrante do Mercosul que havia ficado de fora dele. O ministro deu a entender que a adesão do Uruguai poderia ajudar na unificação da candidatura do Mercosul, porque "o nome brasileiro é o nome do G-20". Durante o governo de Batlle, o Uruguai teve por várias vezes posições distintas do resto do Mercosul, assinando inclusive, à revelia do bloco um acordo de investimentos com os EUA, que ainda tem de ser referendado pelo Congresso. O chanceler brasileiro também falou sobre as negociações da Alca e considerou que a estratégia brasileira é "continuar conversando" apesar das dificuldades. Amorim rejeitou o argumento exposto pelos EUA de que um dos entraves para a negociação é incluir questões relacionadas à propriedade intelectual na negociação. Segundo o chanceler, tentar impor punições comerciais aos países por violar regras de propriedade intelectual seria transformar a Alca num "instrumento de restrição de comércio, não de liberalização". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também aproveitou sua passagem pelo Uruguai para buscar uma aproximação com o país vizinho a partir da posse de Tabaré Vázquez. Durante a inauguração das novas instalações de uma fábrica de malte da AmBev em Paysandú, no interior do país, Lula disse que a necessidade de crescimento das duas economias confirma "a necessidade de integração de nossos países, uma integração sem hegemonismos". Lula reconheceu também a necessidade de os cidadãos dos países do Mercosul verem os frutos concretos da integração e citou a fábrica visitada ontem como um exemplo. Por causa da queda do mercado uruguaio de cerveja, a AmBev havia decidido fechar a fábrica de Paysandú, mas depois de pressão do governo brasileiro a empresa remodelou as instalações, destinando toda a produção de malte do local à exportação para o Brasil. "A integração precisa trazer benefícios concretos para nossas populações, que não podem mais esperar", afirmou Lula. Antes de viajar a Paysandú, Lula participou pela manhã em Montevidéu de uma reunião com os presidentes da Argentina , Nestor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez. Segundo o chanceler, a pauta da reunião tratou de três temas básicos: situação macroeconômica e desenvolvimento social, sociedade civil e integração energética. Também foi discutida a eventual cooperação entre as indústrias navais dos três países, particularmente para atender à demanda venezuelana por embarcações para o transporte de petróleo.