Título: Fundo de R$ 300 mi investe em etanol
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2009, Finanças, p. B11
A gestora brasileira DGF Investimentos conseguiu fechar em plena crise um fundo de private equity de R$ 300 milhões. A carteira recebeu o nome de FIP Terra Viva e vai investir em etanol.
O fundo foi fechado no início de janeiro e contou com recursos de seis fundos de pensão, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Entre as fundações, participaram Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (dos petroleiros), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Fibra (Itaipu).
Sidney Chameh, que criou a DGF em 2001, conta que demorou 18 meses desde a ideia inicial de criar o fundo até o fechamento, em plena crise mundial. A carteira só contou com recursos nacionais. Foram inúmeras viagens para apresentar o projeto a investidores e fundos de pensão pelo país. No final de 2008, em um dos piores momentos da crise, um dos investidores, responsável por uma parcela significativa dos recursos, resolveu rever seus planos e o Terra Viva quase não saiu. Foi necessária uma nova rodada de negociações e o fundo acabou saindo dentro do planejado.
O objetivo da carteira é aplicar em projetos de etanol. A expectativa é fazer em torno de seis investimentos já a partir deste mês. As áreas de interesse passam por empresas focadas em desenvolver novos materiais e equipamentos ligados à cadeia produtiva do etanol e outros projetos relacionados à cogeração de energia a partir do bagaço da cana.
Uma terceira área de interesse é na consolidação de usinas. Esse segmento, acredita Chameh, é o que vai exigir aportes maiores do fundo, que podem chegar a R$ 90 milhões. Assim como nos outros setores da economia (como o siderúrgico, financeiro e celulose), as usinas de etanol vão passar por um processo de consolidação. "Esse mercado hoje é muito extratificado e endividado." O fundo, avisa ele, está interessado em reestruturar dívidas, mas não pretende resolver problemas de solvência de empresas.
Alavancadas, as usinas de açúcar e álcool em sua maioria enfrentam hoje escassez de crédito no mercado. Mas a crise financeira pela qual as usinas passam surge mesmo antes de a turbulência global estourar, a partir do segundo semestre do ano passado. Entre 2005 e 2008, cerca de 200 novos projetos foram anunciados por conta do boom do etanol. Mas, deste total menos da metade saiu do papel.
As usinas de açúcar e álcool do Brasil processam cerca de 550 milhões de toneladas de cana, das quais mais de 85% da região Centro-Sul do país. Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica, os projetos de novas usinas que vão entrar em operação este ano só sairão porque todos os investimentos industriais foram concluídos, senão seriam postergardos.
Uma parte das usinas que decidiu adiar os seus projetos deverá partir para aquisições este ano, aumentando o processo de consolidação do setor. Um desses grupos é a Cosan, que tinha três projetos "greenfield" (construção de usinas a partir do zero) em Goiás, mas neste ano só vai inaugurar o de Jataí. O grupo está analisando aquisições e participações em outras usinas. Maior grupo sucroalcooleiro do país, a Cosan responde por cerca de 8% da produção nacional.
Com o setor em transformação, o Terra Viva prometeu rentabilidade atrativa aos cotistas, de 18% ao ano, em termos reais. A carteira pode fazer investimentos minoritários ou assumir o controle. A primeira reunião do comitê de investimentos - formado por representantes da gestora e dos cotistas do fundo - para avaliar aportes está marcada para este mês. Há outra reunião em maio. A criação do Terra Viva obrigou a DGF a abrir escritório em Ribeirão Preto, onde estão boa parte dos projetos ligados ao etanol no Brasil. Ao todo, há sete executivos dedicados à carteira.
Com o Terra Viva, a DGF passa a administrar R$ 450 milhões e contar com uma equipe de 20 pessoas. A gestora tem outros dois fundos de private equity focados em tecnologia e inovação. O primeiro, de R$ 20 milhões, foi lançado em 2002. O segundo fundo é de 2007 e tem patrimônio de R$ 100 milhões, dos quais 70% já foram investidos ou já estão em negociações finais. Com os 30% restantes, Sidney Chameh diz que o fundo deve fazer mais um ou dois investimentos, sempre na área de inovação. Nesses dois fundos, a rentabilidade prometida aos investidores oscila na casa dos 25% a 30%.
Chameh fala que captar recursos no exterior agora está muito complicado. Por isso, prefere apostar no mercado local. Com a queda da bolsa, ele avalia que os private equities vão ficar mais atrativos para os fundos de pensão locais. No caso do Terra Viva, depois que a DGF conseguiu a chancela de três grandes fundos (Previ, Petros e Funcef), ficou mais fácil atrair outras fundações, como a Fachesf (da Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco) e a Banesprev (do Banespa).
A DGF pretende agora entrar em novos ramos dentro do setor de participações. A gestora quer ter um fundo para cada segmento, seja para empresas mais novas ("venture capital") ou para projetos iniciais ("capital semente"). "Queremos ter um tamanho significativo no país." (Colaborou Mônica Scaramuzzo)