Título: Ministério prevê uso de aquecimento solar em 500 mil casas populares
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2009, Brasil, p. A3

O programa em gestação no governo para construir 1 milhão de casas populares até o fim de 2010 ganhará componente ambiental. Pelo menos metade das unidades a serem erguidas deverá ter sistema de aquecimento solar da água, em vez do uso de chuveiros elétricos. O custo da implantação é estimado em R$ 800 por unidade. Nas habitações mais baratas, avaliadas em R$ 15 mil, o acréscimo ao valor do imóvel ficará em torno de 5%.

Obviamente, quanto maior o valor da casa, menor será o acréscimo para implantar o sistema de aquecimento solar. A introdução de uma vertente ambiental no programa habitacional foi acertada entre o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e a presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Maria Fernanda Ramos Coelho. Além dos painéis solares, a CEF se comprometeu a exigir uso de madeira certificada para financiar as casas populares, segundo Minc.

O ministro estima que as famílias de baixa renda deverão fazer uma economia anual de R$ 300 a R$ 500 nas contas de luz. "Em dois anos, talvez menos, o investimento no aquecimento solar se paga." No horário de pico, entre 19h e 21h, cerca de 20% do consumo de energia no país ocorre em função dos banhos com chuveiro elétrico.

Minc lembra que, na maioria das habitações populares do programa, o custo de implantação do sistema de painéis ficará próximo de 3% a 4% do valor do imóvel.

Pelos cálculos do ministério, a implantação do sistema em 500 mil casas populares evita a necessidade de expandir a oferta de energia em cerca de 540 megawatts (MW) e faz com que o país deixe de emitir 830 mil toneladas de CO2, a mesma capacidade de absorção de uma floresta de 85 quilômetros quadrados. A economia com investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia chega a R$ 1,6 bilhão, avalia o ministério.

Procurada pela reportagem, a CEF não quis comentar o assunto, alegando que o pacote habitacional ainda está sendo desenhado. Os detalhes técnicos do "PAC Solar", como Minc chama a parte ambiental do programa, deverão ser fechados em reunião no Ministério da Fazenda, na terça-feira. Está sendo cogitada a possibilidade de diminuição do IPI sobre placas solares, que hoje é de 18%. Os chuveiros elétricos tiveram imposto reduzido de 10% para 5%, em 2006.

Na área técnica, as discussões estão sendo conduzidas pelo vice-presidente de governo e desenvolvimento urbano da CEF, Jorge Hereda, e pela secretária de mudanças climáticas do ministério, Suzana Kahn. Minc assegurou que, apesar de faltarem detalhes como a responsabilidade pelo custo de manutenção das placas solares e a possível implantação de "backup" (elétrico ou a gás), a medida já recebeu a bênção do Planalto.

O ministro demonstra entusiasmo também com o programa, que deverá ser anunciado em breve, de troca de 10 milhões de geladeiras. Além de reduzir as emissões de CFC - gás responsável por buracos na camada de ozônio e eliminado das geladeiras mais novas, mas presente nas velhas - e diminuir o desperdício de energia elétrica, Minc ressalta que a crise e a queda da produção industrial reforçaram a importância do programa, que se tornou anticíclico.