Título: Preço recorde do ferro deve duplicar o lucro da Vale
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Empresas &, p. A1

A Cia. Vale do Rio Doce não vai comemorar sozinha o reajuste recorde de 71,5% do minério de ferro para este ano. Seus acionistas não perdem por esperar, pois segundo o Valor apurou junto a fontes do mercado, a companhia poderá pagar aos seus acionistas dividendos totais também recordes de até US$ 2 bilhões em 2005, ante US$ 800 milhões em 2004. No final de janeiro a Vale anunciou uma remuneração mínima de US$ 1 bilhão para os portadores de seus papéis, ou 82% acima do pagamento mínimo de US$ 550 milhões proposto no início do ano passado. A política de dividendos da maior mineradora de minério de ferro do mundo determina que seja feito o anúncio no início do ano do dividendo ou remuneração mínima a ser pago em duas tranches aos acionistas. Uma em abril e outra em outubro. Em cima do resultado do ano a Vale tem por hábito anunciar um dividendo complementar, que somado ao mínimo resulta no dividendo total distribuído no ano. A Merrill Lynch, em relatório de seus analistas Andréa Weinberg e Marcelo Aguiar, trabalha para 2005 com uma expectativa de pagamento de dividendo total elevado de US$ 1,7 bilhão, 70% acima do dividendo mínimo anunciado em janeiro, equivalente a 4% de dividendo yield. A analista Cristiane Vianna, da corretora Ágora, previa uma distribuição total de US$ 1,5 bilhão para o ano, antes do reajuste do minério. Agora, ela só aguarda o fim das negociações da Vale com as usinas européias para rever este número para cima. Entre 2001 e 2004 a Vale distribuiu o montante de US$ 3,1 bilhões. O dividendo yield médio do período foi de 5,8% e o retorno total para o acionista, compreendendo valorização das ações e dividendos foi de 38,9%, conforme cálculos da própria companhia. A possibilidade de a Vale conceder remuneração recorde aos seus acionistas neste ano teria por base os fortes resultados esperados pelos analistas para a companhia. Jennifer Corrou, analista do Citigroup, projeta um Lajida (geração operacional de caixa) para a Vale, em 2005, de US$ 7,9 bilhões e um lucro por ação de US$ 4,17 no fim do ano. Isso significaria um lucro na casa de US$ 4,7 bilhões. Andrea Weinberg e Marcelo Aguiar, da Merrill Lynch, estimam US$ 6,8 bilhões de Lajida e lucro por ação de US$ 4,12 e lucro líquido semelhante. Alberto Arias, da Goldman Sachs, estima resultado operacional de US$ 6,04 milhões e lucro por ação de US$ 4,70 no ano. As projeções para o lucro chegam até US$ 5 bilhões - o dobro dos US$ 2,6 bilhões previstos para 2004, por Pedro Galdi, do ABN Amro Real Corretora.. Estes números embutem uma expectativa de reajuste de 71,5% também com as siderúrgicas européias, seguindo os passos das asiáticas no Japão, China e Coréia. A chinesa Baosteel, por precaução elevou em 9% o aço no mercado local. A Vale comunicou que em 2005 vai fornecer 35,4 milhões de toneladas de minério para o mercado chinês, por conta de acordos de longo prazo. Mas, em meio a este "céu de brigadeiro" alguns analistas prevêem mudanças de cenário em seus relatórios. A trajetória ascendente do minério de ferro estaria com os dias contados, podendo sofrer revés já em 2006. Andrea Weinberg e Marcelo Aguiar, da Merrill Lynch, em extenso trabalho divulgado, prevêem que o preço do minério de ferro, depois da alta espetacular que ocorreu este ano, tenderá a declinar nos próximos dois anos. Uma das razões é o excesso de oferta decorrente dos planos de expansão da produção das grandes mineradoras. Apenas em 2008 voltaria a alcançar de novo os níveis de preço de 2004. No cálculo dos dois analistas, a queda de preço poderá ser da ordem de 20% em 2006 e mais uma queda adicional de 20% em 2007, por conta de um excedente de oferta de 14 milhões de toneladas de minério em 2006 e mais 23 milhões de toneladas em 2007, por conta da capacidade expandida da Vale do Rio Doce e suas rivais Rio Tinto e BHP Billiton. A gigante indústria do aço da China também influiria nessa mudança de cenário, pois a demanda de aço local pode desacelerar lentamente, segundo os analistas. Passaria de um crescimento de 12% em 2005 para 10% em 2006, depois de crescer 15% em 2004.