Título: Jackson Lago arregimenta apoio para reverter cassação pelo TSE
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2009, Brasil, p. A9

Cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral, o governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), e seu vice, Luiz Carlos Porto (PPS), irão recorrer da decisão para se manter nos cargos. Caso não consigam reverter a sentença, a nomeação da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) para o comando do Estado marcará o retomada do poder da família Sarney no Estado e deverá facilitar a manutenção do grupo político no Maranhão em 2010.

Lago e Porto continuarão no governo até que se esgotem todos os recursos (embargos declaratórios). O governador disse estar " esperançoso " . Já Roseana prepara-se para possivelmente assumir o cargo e disse que " lutou muito para estar onde está " .

Além de decidirem sobre a cassação, os ministros do TSE votaram a favor da posse de Roseana, candidata derrotada nas urnas em 2006, sem a necessidade de nova eleição. A denúncia contra Lago partiu da coligação da pemedebista, que o acusava de suposto abuso de poder econômico, uso da máquina administrativa de seu antecessor, José Reinaldo Tavares (PSB) - opositor da família Sarney - e compra de votos na eleição de 2006. Lago foi denunciado também por omissão de dados na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral. Cinco ministros votaram pela cassação: Carlos Ayres Britto (presidente da Corte), Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Félix Fischer e Fernando Gonçalves. Dois foram contrários: Marcelo Ribeiro e Arnaldo Versiani. Sobre a realização de nova eleição, só Fischer foi favorável.

O PDT, o PT e movimentos sociais protestaram ontem contra a decisão do TSE e disseram que farão vigília até que todos os recursos sejam julgados. O PDT, partido que Lago ajudou a fundar ao lado de Leonel Brizola, disse ser " inacreditável atribuir a Jackson Lago exatamente a prática de seus adversários, conhecidos nacionalmente por usar e abusar do seu incontestável poder econômico e político " . Para o presidente do diretório estadual do partido, deputado Julião Amin, " estão usurpando o poder do povo do Maranhão " .

O grupo político que ajudou a eleger Lago também questiona o fato de não haver uma nova eleição. Lago venceu no segundo turno com 51, 82% dos votos válidos, mais de 1,39 milhões de votos. Roseana obteve 48,18%, cerca de 1,29 milhões de votos.

A atuação do Judiciário, ao decidir pela cassação de políticos eleitos pelo voto, foi amplamente contestada ontem pelos simpatizantes de Lago, como o deputado Flavio Dino (PCdoB-MA). " Se o Judiciário achar que vai moralizar a política brasileira sozinho vai passar do ponto. Não pode ceder à tentação do messianismo " , afirmou Dino. Para o prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira (PSDB), " a judicialização da política contraria a vontade do eleitor. " " Não é justo que tirem do povo o direito de escolher o governante. O TSE está beneficiando quem não foi aceito pela população " , afirmou. Madeira teve forte apoio de Lago na eleição de 2008.

Os aliados do governador criticam o argumento aceito pelos ministros do TSE de que Lago tenha sido beneficiado por convênios assinados por José Reinaldo Tavares. Os dados eleitorais de 2006 no Maranhão mostram que os municípios menores mantiveram-se fiéis a Roseana Sarney. Nos 29 municípios com até 5 mil eleitores, Roseana teve 65% dos votos no primeiro turno e 72% no segundo turno. Nas 72 cidades entre 5 mil e 10 mil eleitores, o grupo de Sarney oscilou de 57% para 55% entre o primeiro e o segundo turno. Lago só superou Roseana nos 15 municípios acima de 40 mil eleitores, como São Luís e Imperatriz, onde a influência de José Reinaldo para beneficiar Lago era menor.

O grupo político de Sarney não aceitou a vitória de Lago em 2006 e o primeiro ano da gestão do governador foi marcado pelo clima de " terceiro turno " , com pressões judiciais. O governador foi investigado na Operação Navalha, da Polícia Federal, por suposta participação no esquema de desvio de recursos públicos para beneficiar a construtora Gautama. Segundo as suspeitas - negadas pelo governador -, ele teria recebido propina da construtora por meio de dois sobrinhos, que foram presos na operação da PF. A Procuradoria-Geral da República pediu a prisão de Lago, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) disse não haver indícios que comprovassem o envolvimento do governador. O episódio foi usado pelos opositores para tentar derrubá-lo.

Os primeiros meses de governo foram marcados por outro problema: greves de professores e de policiais, que reivindicavam reajuste salarial e criticavam o corte de gratificações pelo Estado. O secretariado de Lago ficou sob alvo da oposição, com a nomeação de primos, sobrinhos e irmãos do governador e de sua esposa. A mídia maranhense, controlada em grande parte por grupos ligados à família Sarney, fez ampla oposição ao governo.

A eleição de Lago em 2006 marcou o fim da hegemonia do grupo Sarney no Estado depois de mais de 40 anos. Na eleição municipal de 2008, o grupo político também viu seu enfraquecimento, depois que Lago e seus aliados elegeram 144 prefeituras - em 2004 foram 2.

O possível retorno de Roseana ao governo do Estado, que já comandou por sete anos, será a segunda vitória da família na busca da retomada de poder: seu pai, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), voltou à presidência do Senado no começo do ano. Para Roseana, sua nomeação marcará a vitória sobre o " preconceito " . " Não sei que oligarquia é essa que dizem que faço parte. Não tive muitos apoios. Pelo contrário: sofro muito preconceito por ser mulher, nordestina e filha de Sarney. " Segundo aliados, ela tentará a reeleição em 2010.