Título: Convergências em telecomunicações
Autor: Sergio Werneck e João Ávila
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2005, Empresas &, p. B2

Previsões sobre convergências de serviços de telecomunicações suportadas por novas tecnologias já existem há muito tempo. O grande desafio dos executivos é identificar quais destas previsões realmente acontecerão e, principalmente, o momento correto de executar mudanças vislumbrando novas oportunidades e impedindo ameaças. Normalmente, novos serviços de telecomunicações começam de forma bastante tímida e rapidamente passam a ser consumidos por boa parte do mercado. Um exemplo foi o serviço de celulares, que se iniciou no Brasil no início da década de 90. Após 5 anos, somente 2% dos brasileiros tinha acesso à tecnologia. Atualmente, o número de linhas ativas chega próximo a 35% da população brasileira. Novos serviços estão surgindo, principalmente através da convergência de produtos de telecomunicações. Exemplo clássico é a fusão de voz e dados, prevista há algum tempo e que já ganhou algum espaço no mercado brasileiro. Por um lado, existem as operadoras que vêem a sua receita de voz ameaçada por este serviço e, por outro, existem pressões do mercado por redução de custos. Estas pressões tendem a crescer à medida que a tecnologia se expande. Empresas que possuem um conhecimento técnico especializado já têm buscado soluções diretamente com os fornecedores de equipamentos e tecnologia. Além desta pressão do mercado corporativo, as operadoras ainda sofrem ameaças de novos entrantes. Alguns competidores de menor porte passaram a utilizar voz sobre IP (VoIP), em sua estrutura interna, o que possibilita cobrarem tarifas mais competitivas. É bem verdade que a qualidade e abrangência nacional destes entrantes ainda ficam a desejar. Mas não deixam de representar uma ameaça e já têm demonstrado algum crescimento em sua carteira de clientes. De forma análoga ao que está acontecendo no Brasil, as empresas de telecomunicações européias e americanas também sofreram e sofrem estas pressões. A empresa de consultoria Bain & Company analisou a reação destes mercados. Eis algumas conclusões.

O desafio é identificar o momento de investir

Grande parte das operadoras possui a mesma estratégia: redução de custos para oferecer tarifas mais competitivas para o mercado corporativo e residencial. Alguns exemplos: a MCI anunciou que até o final de 2005 terá 100% das ligações de longa distância trafegadas sob a tecnologia VoIP, reduzindo custos operacionais em US$ 430 milhões ao ano; a AT&T também realizará movimento semelhante reduzindo custos entre 20% a 50%; a Telecom Itália já obteve reduções de 30% e até o final deste ano chegará a 60%. Nada mais natural do que tentar identificar tendências no Brasil analisando estas reações. Porém, o histórico de privatização deixou algumas heranças que fazem do nosso país um caso a parte. A grande variedade de tecnologia herdada das antigas redes estaduais e a questão regulatória podem interferir no movimento das operadoras brasileiras. No passado, quase todos as grandes companhias investiram em segmentos pouco rentáveis, com objetivos sociais, para atender as metas da Anatel. Agora, no momento de recuperarem o investimento realizado, vão pleitear o mercado mais rentável junto aos órgãos competentes. Entretanto, as pressões por redução de custos do mercado corporativo são muito fortes e já é comum o serviço de VoIP ser ofertado pelas próprias operadoras, como já foi divulgado pela Telefônica, BrasilTelecom e Telemar. Outra convergência de serviços de comunicações iminente é a fusão de telefonia fixa e móvel. Praticamente todas as operadoras fixas possuem acionistas em comum com pelo menos uma operadora móvel. A holding da Telemar/Oi realizou recentemente uma grande reestruturação organizacional na qual visou a fusão de diversas áreas. Após a reestruturação, agora existe somente um presidente e diversas diretorias foram unificadas. Mais do que buscar a redução de custos esta ação deixou claro quais são os próximos passos da operadora. Novamente o mercado pressiona a convergência buscando redução de custos. É muito comum a utilização de interfaces conectadas às centrais telefônicas das empresas interligando ramais fixos à rede de uma operadora móvel. Através da alteração de chamadas com origem fixo/destino móvel para móvel/móvel, consegue-se obter uma redução em até 50%. Enfim, nos dois casos, em momentos distintos, um dos grandes desafios a serem superados pelos executivos é identificar qual o momento correto de investir em novas tecnologias de convergência. As operadoras se deparam com duas grandes questões que, de certa forma, são contraditórias: (1) não canibalizar seus produtos e (2) não perder clientes por não oferecer o serviço demandado pelo mercado. Já os entrantes devem estar atentos a oportunidades que podem surgir através de uma falha estratégica das operadoras ao tentar equilibrar os dois pontos citados ou através da identificação de mercados de nicho. Além disso, com o mercado de private equity dando sinais de retomada no Brasil, novos empreendimentos que oferecem serviços/produtos suportados por tecnologias de convergência podem se tornar casos de sucesso.